sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Amore co amore si paga

Pra Migna Anamurada

Xinguê, xisgaste! Vigna afatigada i triste
I tirste i afatigada io vigna;
Tu tigna a arma povolada di sogno
I a arma povolada di sogno io tigna.

Ti amê, m'amasti! Bunitigno io éra
I tu tambê era bunitigna;
Tu tigna uma garigna de féra
E io di féra tigna uma garigna.

Una veiz ti begiê a linda mó,
I a migna tambê vucê begió.
Vucê mi apiso nu pé, e io non pisé no da signora.

Moltos abbracio mi deu vucê,
Moltos abbracio io tambê ti dê.
U fóra vucê mi deu, e io tambê ti dê u fóra.

O soneto acima é Juó Bananére (Alexandre Marcondes Machado), paulista que se tornou popularíssimo no Brasil pela irreverência de suas paródias a sonetos de Camões e de Olavo Bilac, a poesias de Casimiro de Abreu e de Guerra Junqueiro, como pelas sátiras políticas contra o marechal Hermes da Fonseca e outros figurões da velha República. Parodiou também La Fontaine e Machado de Assis, escrevendo em dialeto macarrônico, numa imitação dos habitantes de origem italiana do Abaixo-Piques, bairro de São Paulo. Deixou um livro, apenas, "La divina Increnca", cujo êxito foi sensacional, e que é nos dias de hoje uma raridade bibliográfica. Otto Maria Carpeaux, em interessante estudo, considerou Juó Bananére um pré-modernista, principalmente pelo fato de ter começado a tratar de forma irreverente as produções do romantismo e do parnasianismo, até então levadas muito a sério.

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