“Têm
sentido de humor os que têm sentido prático. Quem descuida a vida, embevecido
numa ingênua contemplação (e todas as contemplações são ingênuas), não vê
as coisas com desprendimento, dotadas de livre, complexo e contrastante
movimento, que forma a essência da sua comicidade. O típico da contemplação é,
pelo contrário, determo-nos no sentimento difuso e vivaz que surge em nós ao
contato com as coisas. É aqui que reside a desculpa dos contemplativos: vivem
em contato com as coisas e, necessariamente, não lhes sentem as singularidades
e características; sentem-nas, pura e simplesmente.
Os
práticos - paradoxo - vivem distantes das coisas, não as sentem, mas
compreendem o mecanismo que as faz funcionar. E só ri de uma coisa quem está
distante dela. Aqui está, implícita, uma tragédia: habituamo-nos a uma coisa
afastando-nos dela, quer dizer, perdendo o interesse. Daqui, a corrida afanosa.
Naturalmente, de um modo geral, ninguém é
contemplativo ou prático de forma total, mas, como nem tudo pode ser vivido,
resta sempre, mesmo aos mais experimentados, o sentimento de qualquer
coisa.”
Cesare
Pavese, in O Ofício de Viver
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