quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Chico Nunes das Alagoas


Nos anos setenta eu li um livro do saudoso Mario Lago, o grande ator brasileiro que entrou pra história como autor de “Ai que saudades de Amélia“.
O livro intitula-se “Chico Nunes das Alagoas” (Editora Civilização Brasileira, 1975), e de vez em quando eu tiro da minha estante pra dar uma olhada nas suas páginas. Mario Lago foi fazer uma filmagem no interior de Alagoas, em Palmeira dos Índios, e lá descobriu a figura fantástica do poeta popular Chico Nunes (Francisco Nunes de Oliveira), falecido desde 1953.
Mario se apaixonou pelo poeta a ponto de escrever este livro e nele colocou tudo que pode recolher da obra esparsa de Chico.
No livro ele conta que Chico Nunes estava em visita à cidade de Bom Conselho, em Pernambuco, dominada naqueles tempos antigos pelo mandonismo e pela mão pesada do chefe político local, o Coronel Zé Abílio, brabo e feroz que só uma capota choca. Em Bom Conselho Chico Nunes foi desafiado pra glosar um mote que um sujeito deu, um inimigo de Zé Abílio, esculhambando com o coronel.
E nestas glosas Chico Nunes conseguiu mostrar toda a genialidade do poeta popular nordestino, pois atendeu ao pedido do seu admirador, fez a glosa e não ofendeu ao coronel, que ele não era besta de fazer isto.
Vejam só:

Mote:
José Abílio não presta

Glosas:

É justo, certo e honrado,
Na cidade de Bom Conselho,
Representa um grande espelho
Nesta região do Estado.
Por todos é estimado,
E gosta muito da festa,
A ninguém se manifesta
E a todos só dá prazer.
Quem está dizendo é você
Que Zé Abílio não presta.

É muito considerado
No sertão pernambucano,
É um sujeito muito humano,
Por todos é estimado,
Protege o pobre coitado
Não lhe dá só do que resta,
De Bom Conselho a Floresta,
É corno, desinfeliz,
Caba safado quem diz
Que Zé Abílio não presta.
Paulo Carvalho, in, www.bestafubana.com.br, Coluna Votê, espia sô...

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