“Um
dos prazeres humanos menos observados é o de preparar acontecimentos à
distância, de
organizar um grupo de acontecimentos que tenham uma construção, uma lógica, um
começo e um fim. Este é quase sempre apercebido como um acme sentimental, uma
alegre ou lisonjeira crise de conhecimento de si próprio. Isto aplica-se tanto
à construção de uma resposta pronta como à de uma vida. E o que é isto, senão a
premissa da arte de narrar? A arte narrativa apazigua precisamente esse gosto
profundo.
O prazer de narrar e
de escutar é o de ver os fatos serem dispostos segundo aquele gráfico. A meio
de uma narrativa volta-se às premissas e tem-se o prazer de encontrar razões,
chaves, motivações causais. Que outra coisa fazemos quando pensamos no nosso
próprio passado e nos comprazemos em reconhecer os sinais do presente ou do
futuro? Esta construção dá, em substância, um significado ao tempo. E o
narrar é, em suma, apenas um meio de o transformar em mito, de lhe fugir”.
Cesare Pavese, in O Ofício de Viver
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