Tantas coisas
contêm em si o acidente
De perdê-las,
que perder não é nada sério.
Perca um
pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
A chave perdida,
a hora gasta bestamente.
A arte de perder
não é nenhum mistério.
Depois perca mais
rápido, com mais critério:
Lugares, nomes,
a escala subsequente
Da viagem não
feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio
de mamãe. Ah! E nem quero
Lembrar a perda
de três casas excelentes.
A arte de perder
não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades
lindas. E um império
Que era meu,
dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade
deles. Mas não é nada sério.
- Mesmo perder você
(a voz, o riso etéreo
Que eu amo) não
muda nada. Pois é evidente
Que a arte de
perder não chega a ser mistério
Por
muito que pareça (Escreve!) muito sério.
Elisabeth Bishop. Tradução de Paulo Henriques Britto
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