quarta-feira, 16 de maio de 2012

Um passageiro inesquecível

Quando Leandro Xerife, o pescador, percebeu, já era tarde da noite e a pândega já tinha consumido todas as suas energias num comício de adesão de um adversário ao partido do prefeito, que resolveu retornar de mototáxi para a praia de Paraíso.
Na chegada ao Paraíso, Leandro perguntou ao mototaxista:
- Quanto foi a corrida?  
- Dez reais.
- Ei, moço, eu não tou querendo comprar sua moto, não. A corrida não é cinco?
- Cinco é de dia. Uma corrida de madrugada é muito perigoso, e todos cobram dobrado.
- Homem, eu sou tenho sete. Se você quiser...
- Mas é muito engraçado, eu venho me arriscando a tomarem a moto de assalto e você agora me vem com essa lorota!
- Ah, é? Pois nem dez, nem sete e nem cinco! Me ponha na garupa da moto, volte para Areia Branca e me deixe no mesmo lugar que você me pegou.
- É o que, macho? É muito engraçado. Então eu vou passar a madrugada passeando com você, pra cima e pra baixo, e você não vai me pagar nada?
- Por acaso você vai levar a moto na cabeça ou no bolso? Você vai ter que voltar. Me deixe no mesmo local e estamos quites.
- Homem, para não perder de tudo, me dê esses sete reais – disse o mototaxista, já bastante enfezado e disposto a acabar com a discussão.
Após cinco minutos que Leandro entrou em casa, que é um misto de residência e bar, ouviu uma buzina insistente e abriu a porta. Era o mototaxista que voltava, pois percebeu duas pessoas em situação suspeita e, por precaução, retornou e pediu guarida ao pescador. Este cedeu uma rede ao dono da moto, que dormiu no alpendre, depois de dividir o prato de sopa com o dono da casa.
De manhã, Leandro serviu café com pão ao inesperado hóspede. Na saída, este agradeceu;
- Obrigado pela hospedagem, Leandro.
- Ei, moço, aqui é um bar: consumiu, tem que pagar!
- Como é que é a estória?
- Ora, você tomou da minha sopa, dei dormida para não ser assaltado, além de ter tomado do meu café. Somando tudo, é quinze reais, mas pra você faço por dez.
- Mas, rapaz, essa é demais! Tome seus sete reais, disse o irado mototaxista, jogando o dinheiro na direção de Laércio.
E saiu ciscando areia, se maldizendo e arrependido por não ter enfrentado os suspeitos da madrugada.
Elilson José Batista, in Inéditos & Afins

Nenhum comentário:

Postar um comentário