quarta-feira, 16 de maio de 2012

Os seios de Duília

Imagem: Google

“Atirou-se de bruços na cama. E sonhou. Sonhou que conversava ao telefone e era a voz d mulher de há quinze anos... Foi andando para o passado... Abriu-lhe uma cidade de montanha, pontilhada de igrejas. E sempre para trás – tinha então dezesseis anos – ressurgia-lhe a cidadezinha onde encontrara Duília. Aí parou. E Duília lhe repetiu aquele gesto calmamente, o mais louco e gratuito com que uma moça pode iluminar para sempre a vida de um homem tímido. O que mais o espantara no gesto de Duília – recordava-se José Maria durante a insônia – foi a gratuidade inexplicável e a absurda pureza. Ela era moça recatada, ele um rapazinho tímido; apenas se namoravam de longe. Mal se conheciam. A procissão subiu a ladeira, o canto místico perdia-se no céu de estrelas. De repente, o séquito parou para que as virgens avançassem, e na penumbra de uma árvore, ela dá com o olhar fixo em seu colo. Parece que teve pena e com simplicidade, abrindo a blusa, lhe disse: - Quer ver? Ele quase morre de êxtase. Pálidos ambos, ela ainda repete – quer ver mais? E mostra-lhe o outro seio branco, branco... E fechou calmamente a blusa. E prosseguiu cantando...”
Aníbal Machado, in Viagem aos seios de Duília

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