Imagem: Google
“Atirou-se de bruços na cama. E sonhou.
Sonhou que conversava ao telefone e era a voz d mulher de há quinze anos... Foi
andando para o passado... Abriu-lhe uma cidade de montanha, pontilhada de
igrejas. E sempre para trás – tinha então dezesseis anos – ressurgia-lhe a
cidadezinha onde encontrara Duília. Aí parou. E Duília lhe repetiu aquele gesto
calmamente, o mais louco e gratuito com que uma moça pode iluminar para sempre
a vida de um homem tímido. O que mais o espantara no gesto de Duília – recordava-se
José Maria durante a insônia – foi a gratuidade inexplicável e a absurda
pureza. Ela era moça recatada, ele um rapazinho tímido; apenas se namoravam de
longe. Mal se conheciam. A procissão subiu a ladeira, o canto místico perdia-se
no céu de estrelas. De repente, o séquito parou para que as virgens avançassem,
e na penumbra de uma árvore, ela dá com o olhar fixo em seu colo. Parece que
teve pena e com simplicidade, abrindo a blusa, lhe disse: - Quer ver? Ele quase
morre de êxtase. Pálidos ambos, ela ainda repete – quer ver mais? E mostra-lhe
o outro seio branco, branco... E fechou calmamente a blusa. E prosseguiu
cantando...”
Aníbal
Machado, in Viagem aos seios de Duília
Nenhum comentário:
Postar um comentário