quinta-feira, 3 de maio de 2012

De manhã

O hábito de estar aqui agora
Aos poucos substitui a compulsão
De ser o tempo todo alguém ou algo.

Um belo dia – por algum motivo
É sempre dia claro nesses casos –
Você abre a janela, ou abre um pote
De pêssegos em calda, ou mesmo um livro
Que nunca há de ser lido até o fim
E então a ideia irrompe, clara e nítida:

É necessário? Não. Será possível?
De modo algum. Ao menos dá prazer?
Será prazer essa exigência cega
A latejar na mente o tempo todo?
Então por quê?

E neste exato instante
Você por fim entende, e refestela-se
A valer nessa poltrona, a mais cômoda
Da casa, e pensa sem rancor:
Perdi o dia, mas ganhei o mundo,
(mesmo que seja por trinta segundos).
Paulo Henriques Brito, in Macau

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