quinta-feira, 5 de abril de 2012

Pensar como espiritualistas, agir como materialistas

“Pensar como espiritualistas, agir como materialistas. Não é absurda a doutrina: é, afinal, a doutrina espontânea da humanidade inteira.
O que é a vida da humanidade senão uma evolução religiosa sem influência sobre a vida quotidiana?
A humanidade é atraída pelo ideal, e quanto mais alto e anti-humano for o ideal, mais (se for progressiva) será atraída a prática da sua vida civilizada, que, por isso, vai de povo para povo, de era para era, de civilização para civilização. A humanidade civilizada abre os braços a uma religião que prega a castidade, a uma religião que prega a igualdade, a uma religião que prega a paz. Mas a humanidade normal procria, combate-se e contrasta sempre; assim, até que acabar, sempre fará.
No mesmo tempo, na mesma sociedade, o homem normal ateu procede em todo [o] social como o homem normal teísta; pareceria contudo que em poucas coisas devem proceder paralelamente. Não há tese ou teoria que afete a atmosfera que se respira.”
Fernando Pessoa, in A educação do estoico.

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