“Tentai
apreender a vossa consciência e sondai-a. Vereis que está vazia, só
encontrareis nela o futuro. Nem sequer falo dos vossos projetos e expectativas:
mas o próprio gesto que surpreendeis de passagem só tem sentido para vós se
projetardes a sua realização final para fora dele, fora de vós, no ainda-não.
Mesmo esta taça cujo fundo não se vê - que se poderia ver, que está no fim de
um movimento que ainda não se fez -, esta folha branca cujo reverso está
escondido (mas poderia virar-se a folha) e todos os objetos estáveis e sólidos
que nos rodeiam ostentam as suas qualidades mais imediatas, mais densas, no
futuro.
O homem
não é de modo nenhum a soma do que tem, mas a totalidade do que não tem ainda,
do que poderia ter. E, se nos banhamos assim no futuro, não ficará atenuada a
brutalidade informe do presente? O acontecimento não nos assalta como um
ladrão, visto que é, por natureza, um Tendo-sido-Futuro. E, para explicar o
próprio passado, não será a primeira tarefa do historiador procurar o futuro?”
Jean-Paul Sartre, in Situações I
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