– Sabe,
eu tinha vontade, mamãe, de experimentar às vezes ficar doido.
– Mas
para quê? (Eu sei, eu sei o que você vai dizer, sei porque em mim o
meu bisavô deve ter dito o mesmo, eu sei que é através de quinze
gerações que uma só pessoa se forma, e que essa pessoa futura me
usou para me atravessar como a uma ponte e está usando meu filho e
usará o filho de meu filho, assim como um pássaro pousado numa seta
que vagarosamente avança.)
– Pra
me libertar, assim eu ficava livre…
(Mas
haverá a liberdade sem a prévia permissão da loucura. Nós ainda
não podemos: somos apenas os gradativos passos dela, dessa pessoa
que vem.)
Clarice Lispector, em Todas as crônicas
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