As
mesquitas continuam abertas em Granada, sete anos depois da rendição
deste último reduto dos mouros na Espanha. É lento o avanço da
cruz depois da vitória da espada. O arcebispo Cisneros decide que
Cristo não pode esperar.
Mouros
chamam os espanhóis cristãos aos espanhóis de cultura islâmica,
que levam aqui oito séculos. Milhares e milhares de espanhóis de
origem judia já foram condenados ao desterro. Aos mouros
também será dado escolher entre o batismo e o exílio; e para os
falsos convertidos ardem as fogueiras da Inquisição. A unidade da
Espanha, desta Espanha que descobriu a América, não será o
resultado da soma de suas partes.
Por
ordem do arcebispo Cisneros, marcham para a prisão os sábios
muçulmanos de Granada. Altas chamas devoram os livros islâmicos,
religião e poesia, filosofia e ciência, exemplares únicos que
guardavam a palavra de uma cultura que regou estas terras e nelas
floresceu.
Do
alto, os lavrados palácios da Alhambra são testemunhas mudas do
avassalamento, enquanto as fontes não param de dar água aos
jardins.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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