sábado, 13 de maio de 2023

Uma mulher diferente


Ele escorregava no piso da banheira ao tomar banho de chuveiro e tinha que se segurar em algum lugar para não cair. Por isso, às vezes, apenas limpava as axilas com uma esponja ensaboada, lavava cuidadosamente as partes pudendas no bidê e perfumava o corpo.
Para ir para a cama com uma mulher, além dessas preliminares higiênicas, outras medidas tinham que ser tomadas. O quarto de preferência devia ficar em penumbra, mas se a luz fosse acesa, como algumas pediam, isso não era problema, as mulheres adoravam o seu tórax musculoso. Para manter os peitorais, deltoides, bíceps e tríceps em sua rígida definição, ele realizava, todos os dias, vinte séries de mergulhos no chão, cada uma com trinta repetições, dez séries pela manhã, dez à tarde. Desenvolver a musculatura dos quadríceps era mais trabalhoso, pois os agachamentos com a barra nos ombros exigiam, além de perícia, um esforço muito grande.
Sempre esperava a mulher se desnudar primeiro. Depois, tirava apenas os sapatos, a camisa e, mantendo as calças, possuía a mulher com grande e demorado ardor. A coreografia dos corpos durante o ato era controlada cuidadosamente por ele, para que aquela sua peculiaridade não interferisse negativamente na fruição sexual recíproca. Era ajudado pelos seus braços musculosos, suas mãos hábeis e engenhosas, e uma genitália de grandes proporções.
Por que você não tirou as calças?
Minhas pernas são finas, ele dizia. Algumas respondiam, afagando-o, que as coxas dele eram grossas. Cada louco com a sua mania, ele explicava, afastando a mão da mulher, delicadamente, da sua coxa. Quando insistiam, nas vezes subsequentes, para que tirasse as calças largas que usava, solicitação nunca atendida, ele sabia o que afinal iria acontecer. Homens idiossincráticos, que agem e reagem de maneira que elas não entendem, perturbam e de certa forma assustam as mulheres.
Por esse motivo a relação sempre durava pouco tempo, mas perder as mulheres não era nenhum problema, ele nunca se apaixonara por nenhuma delas. Agradáveis, lhe davam um prazer aliviante, mas eram todas iguais. Arranjar outra era muito fácil.
Então conheceu Vivi e se apaixonou por ela. Vivi era diferente, não sabia como e por quê, por mais que pensasse, mas sem dúvida ela não era como as outras. Por isso se apaixonara, porque ela era diferente. O corpo de Vivi era bonito, ela movimentava-se com uma elegância natural, era esbelta, era perfeita. Mas já conhecera outras assim. A beleza física não era a diferença que o deixara arrebatado.
Demorou algum tempo, mas um dia Vivi também perguntou:
Por que você nunca tira as calças? O teu corpo é tão bonito.
Minhas pernas são feias.
Não parecem, dentro das calças.
São muito finas.
É uma esquisitice sua.
Cada louco com a sua mania.
Você não acha que isso, de certa maneira, torna você mais tenso? Não sei explicar como, uma tensão que não deixa você relaxar. Eu me entrego e depois relaxo. Você não, parece concentrado em outra coisa, o tempo todo. Mas não estou me queixando, querido, acho que não me expliquei direito.
Mas ele entendeu muito bem o que ela dizia.
Vivi gostava de ficar nua na frente dele, de andar pela casa, comer, ler no sofá, sem roupa. A nudez de Vivi fazia com que ele a agarrasse com insopitável desejo, estivesse deitada na cama ou no sofá, curvada sobre a mesa da copa, ou mesmo em pé no meio da sala, em qualquer lugar ou situação. Ela sentia-se incendiada por aquele ardor constante, que, segundo as suas amigas experientes, não era comum à maioria dos homens, depois da descoberta inicial.
Para não discrepar da nudez dela, ele andava pela casa sem camisa e descalço. Mas não era elegante como Vivi, sua passada era a de um vaqueiro do agreste andando de botas num salão de madeira escorregadia.
Um dia, Vivi voltou a falar das calças.
Essas calças me dão a impressão de que você não é meu, de que o seu corpo não é meu por inteiro, apenas metade dele, a outra pertencendo a alguém, uma mulher com quem você partilha um segredo.
Ele respondeu que não existia nenhuma outra mulher.
Vivi passou a olhar com atenção as calças que ele usava, pensativa, silenciosa. Um dia, surpreendeu-a contemplando as roupas dele no armário. Compreendeu que, se não tirasse as calças e ficasse inteiramente nu, iria perdê-la. Mas se as tirasse, também a perderia, a mulher diferente de todas as outras. Sentiu-se muito infeliz, pois estava num beco sem saída.
Um dia, depois de ficar nua, Vivi exigiu que ele tirasse as calças.
Tira hoje, ou está tudo acabado.
Ele a abraçou. Não posso, disse.
Você é um obstinado, disse Vivi se afastando, não quer se livrar dessa extravagância neurótica, nem eu implorando, como estou fazendo agora.
Se eu tirar as calças será o fim do nosso amor.
Estou suplicando!
Ele suspirou, um gemido, um lamento de animal ferido, perder aquela mulher, que era diferente de todas as outras, o tornaria um ser desgraçado pelo resto da vida.
Vivi se comoveu com a tristeza dele, mas sabia que estava prestes a conseguir o que ansiosamente queria e resistiu à emoção que tomara conta dela.
Anda, por favor, tira as calças.
Ele tirou as calças.
Está vendo? Uma parte desta perna, a inferior, é mecânica, aquilo que chamam de perna de pau. Mas não é de pau. É de titânio.
Vivi ficou calada algum tempo. Depois disse, como por acaso:
Não acho feia a sua perna. Ela lhe dá uma interessante aparência cibernética. Você tem também um olho de vidro?
Olho de vidro? Não, por quê? Talvez eu seja um pouco míope, mas não tenho olho de vidro.
Meu avô cantava uma música de Carnaval que era assim: eu sou o pirata da perna de pau, do olho de vidro, da cara de mau...
Também não tenho cara de mau, ele disse.
Vamos para a cama, cyborg, Vivi disse, rindo.
Não vou conseguir, ele disse.
Foram mais ardentes do que em todas as ocasiões anteriores. No dia seguinte mais ainda. A tensão dele acabara, não havia mais uma rígida disciplina de movimentos a ser seguida. Ele, afinal, podia experimentar a mesma voluptuosidade langorosa que ela sentia.
Vivi mudou-se para a casa dele. Juntos, passaram os dois, completamente nus, a tomar banho, a ler, ver filmes, cozinhar, arrumar a casa, dançar. Vivi só não o ensinou a dançar tango, alegando que também não sabia, e foi a única mentira que lhe disse. Vestiam-se apenas para trabalhar fora ou fazer compras. Quando iam dormir, Vivi o ajudava a tirar a perna mecânica, antes de fazerem amor.

Rubem Fonseca, in Pequenas Criaturas

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