— Às
suas ordens.
— Que-quem
é?
— Às
suas ordens.
— Acho
que apertei o botão errado. Ainda não me acostumei com o painel
deste novo sistema. Como é que eu faço para conseguir uma linha
direta?
— Linha
direta: comprima o botão vermelho no canto direito inferior do
painel. Aguarde. Se não der sinal de linha, comprima o botão
marrom, depois o vermelho novamente. Repita a operação até
conseguir a linha.
— Obrigado,
senhorita...
— De
nada. Desligo.
— Escute!
— Às
suas ordens.
— Olhe.
Por favor, não pense que eu estou sendo indiscreto, mas é que não
reconheci a sua voz. Você é nova no escritório? Alô?
— Às
suas ordens.
— Eu
só queria esta informação...
— Informação:
comprima o “zero” no painel. Aguarde. Quando ouvir o sinal
eletrônico, declare a informação desejada. Fale pausadamente.
— Não,
não. Eu só queria saber... Em primeiro lugar, o que é que você
está fazendo aqui até esta hora? Todo mundo já foi para casa. Já
sei, é seu primeiro dia, você ainda está desambientada. Mas não
precisa exagerar. Ninguém me disse que iam contratar uma nova
telefonista. Aliás, me disseram que com este novo sistema, não
precisava de telefonista. Você não responde?
— Às
suas ordens.
— Só
me diga seu nome. Olhe, não sei o que lhe disseram a meu respeito,
mas eu não sou um patrão duro, não. Só fico até esta hora no
escritório porque, francamente, este é o lugar onde me sinto
melhor. Minha mulher nem fala mais comigo. Me sinto muito melhor
aqui, na minha mesa, na minha poltrona giratória, as minhas coisas,
agora este novo telefone... Entendeu? Não sei por que estou contando
tudo isto para você. Ah, é para você não ter medo de conversar
comigo. Sou absolutamente inofensivo. As funcionárias deste
escritório, para mim, fazem parte da mobília, entende? Jamais
faltei com o respeito com nenhuma delas. Aliás, jamais faltei com o
respeito com mulher nenhuma, ouviu? Você não tem nada para me
dizer?
— Não
há mensagens.
— O
quê?
— Às
suas ordens.
— Mas
eu sou um animal. Você é uma gravação! Agora entendi. E eu aqui
falando sozinho... Mas sabe que você tem uma voz linda?
— Às
suas ordens.
— Quero
fazer amor com você. Agora. Aqui. Em cima da mesa. Com a sua cabeça
atirada para trás, por cima do calendário eletrônico. Com o jogo
de canetas de acrílico espetando as suas costas. E você rindo,
selvagemente, de prazer e de dor. Depois rolaremos pelo carpete como
dois loucos. Como duas feras. Derrubaremos a mesa do café.
— Café:
comprima o botão rosa.
— Ahn.
Diz de novo. Comprima o botão rosa. Diz. Café.
— Café:
comprima o botão rosa.
— Meu
amor, minha paixão. Café.
— Café:
comprima o botão rosa.
— Quero
passar o resto da minha vida ouvindo a sua voz e comprimindo o seu
botão rosa. Nunca mais preciso sair do escritório. Só nós dois.
Quero fazer tudo com você. Tudo! Você deixa?
— Às
suas ordens.
Luís Fernando Veríssimo, in Sexo na cabeça
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