segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Carinhoso | Pixinguinha e João de Barro, 1937


Esta é daquelas que parecem ter sempre existido no coração de brasileiros de diversas gerações. Mas até chegar a esse status permaneceu por duas décadas ignorada. Inicialmente sem letra, foi escondida pelo próprio compositor, Pixinguinha (Alfredo da Rocha Vianna Filho, 1897-1973), que tinha 20 anos quando, em 1917, criou a melodia. Inseguro pelo fato de aquele ser um choro fora dos padrões habituais do gênero, com apenas duas partes quando o normal eram três, ele deixou a partitura guardada na estante. Só em 1928, o também flautista, saxofonista, arranjador e maestro finalmente decidiu gravar “Carinhoso”, em disco de 78 rpm lançado pela Orquestra Típica Pixinguinha-Donga. Dois outros registros instrumentais foram feitos, em 1929 e 1934, mas sem muita repercussão.
A história de sucesso sem fim de “Carinhoso” só iria começar em 1937, quando a canção foi lançada em disco por Orlando Silva, um dos grandes cantores da época, já com os versos feitos por João de Barro, ou Braguinha, como também ficou conhecido Carlos Alberto Ferreira Braga (1907-2006). Carioca de classe média, Braguinha trocou a faculdade de Arquitetura pela música popular após ter participado do Bando dos Tangarás, ao lado de Noel Rosa e Almirante.
Com letra simples, uma cantada escancarada e direta na melhor tradição romântica brasileira, “Carinhoso” foi esnobada por dois outros grandes cantores da época, Francisco Alves (1898-1952) e Carlos Galhardo (1913-1985), ambos com mais prestígio do que Orlando Silva. Este, já no auge de sua técnica vocal e pronto para se tornar o Cantor das Multidões, aceitou a missão e não se arrependeu. Lançado num 78 rpm que vinha acompanhado de “Rosa”, outro clássico de Pixinguinha, o samba-choro virou um sucesso instantâneo e foi adotado como o prefixo musical do cantor. O que não impediu que, a partir daí, “Carinhoso” também entrasse no repertório de todos os grandes intérpretes brasileiros, regravado por Elizeth Cardoso, Ângela Maria, Sílvio Caldas, Dalva de Oliveira, Elis Regina, Maria Bethânia e muitos outros.

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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