O ansioso Pequod continuava a
navegar; os dias e as ondas rolantes passavam; o caixão salva-vidas
ainda seguia em seu leve balanço; e outro navio, ao qual
desgraçadamente haviam dado o equivocado nome de Delícia,
foi avistado. À medida que se aproximava, todos os olhos se voltaram
às grandes vigas, chamadas tesouras, que em certos navios baleeiros
cruzam o tombadilho à altura de oito ou nove pés; servindo para
levar botes sobressalentes, desaparelhados ou estragados.
Nas tesouras do navio estrangeiro
distinguiam-se as vigas brancas e destroçadas e algumas tábuas
lascadas do que fora um bote baleeiro; mas através dos destroços
agora se podia ver tudo, como se vê através do esqueleto
embranquecido, descarnado e meio desarticulado de um cavalo.
“Viste a Baleia Branca?”
“Olha!”, respondeu o capitão de
faces encovadas, nas grades da popa; e com a trombeta apontou para os
destroços.
“Mataste-a?”
“Ainda não foi forjado o arpão que há
de fazê-lo”, respondeu o outro, olhando triste para uma rede
arredondada no convés, cujos lados recolhidos alguns marinheiros
calados se ocupavam em costurar juntos.
“Não foi forjado!”, e, arrancando o
ferro forjado por Perth da forquilha, Ahab brandiu-o exclamando –
“Olha, ó, de Nantucket; aqui nesta mão eu seguro a morte dela!
Temperadas em sangue e pelo raio foram estas farpas; e juro
temperá-las pela terceira vez naquele lugar quente atrás da
barbatana, onde a Baleia Branca mais sente sua vida maldita!”
“Então que Deus te proteja, velho –
vês aquilo?”, e apontou para a rede – “sepultarei apenas um
dos cinco homens fortes, que ainda ontem estavam vivos, mas foram
mortos antes do anoitecer. Apenas esse eu sepulto; o resto foi
sepultado antes de morrer; estás navegando sobre seus túmulos.”
Então, virando-se para a tripulação – “Estais prontos aí?
Colocai a prancha na amurada e içai o corpo; assim – oh! Deus!”,
adiantando-se em direção à rede com as mãos levantadas – “que
a ressurreição e a vida…”
“Preparar, para frente! Leme a
barlavento!”, exclamou Ahab, como um raio, dirigindo-se aos seus
homens.
Porém, o impulso súbito do Pequod
não foi suficientemente rápido para escapar ao barulho produzido
pelo cadáver caindo ao mar; nem suficientemente rápido, de fato,
para evitar que algumas bolhas lhe borrifassem o casco, num batismo
fantasmagórico.
Enquanto Ahab se afastava do triste
Delícia, o estranho salva-vidas pendurado à popa do Pequod
ganhou um relevo insólito.
“Ah! Ali! Olhai ali, homens!”, gritou
uma voz agourenta, em seu rastro. “Em vão, ó, forasteiros, fugis
de nosso triste funeral; virais para nós vossas grades de popa para
mostrar-nos o vosso caixão!”
Herman Melville, in Moby Dick
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