sábado, 26 de dezembro de 2020

Parem com essa bobagem de querer ter sucesso

          “Fulano é um homem muito bem-sucedido”, “Beltrana construiu uma carreira de sucesso”. Crescemos ouvindo esse tipo de expressão acerca de pessoas que teoricamente chegaram ao topo de suas caminhadas e passamos a aceitar desde pequenos que nossa principal meta de vida é alcançar o sucesso.
A questão interessante que se coloca é que praticamente nunca ouvimos uma pessoa repetir este discurso em primeira pessoa: “Eu alcancei o sucesso.” Talvez isso ocorra por uma razão muito simples, que nada tem a ver com humildade: sucesso é uma coisa e realização é outra, completamente diferente. Sucesso é o que os outros pensam sobre uma pessoa e seus caminhos, enquanto a realização é o que a pessoa pensa sobre as escolhas que fez na própria vida. Realização pessoal, realização profissional: alcançar a realização é encontrar a plenitude em determinadas esferas da vida, ter sucesso é simplesmente passar uma imagem de que tudo deu certo.
O problema é que muitas vezes as coisas não deram tão certo quanto o sucesso quer fazer parecer. O sucesso é um telhado de vidro, ninguém sabe muito bem quão resistente é aquilo. O sucesso, puro e simples, pode vir acompanhado de uma infelicidade gigantesca. Não apenas por causa da velha história de que muitos sacrificam a vida pessoal por conta da carreira. Mas porque cada vez mais frequentemente encontramos pessoas que chegaram no topo de empresas, de escritórios e da mídia – os famosos “profissionais bem-sucedidos” – mas que não sentem, nem de longe, que encontraram a realização profissional.
Já o sentimento de realização caminha realmente muito próximo da sensação de missão cumprida. Mas, para tanto, é preciso que haja uma missão. Metas não são missões. Sonhar com um cargo não é ter uma missão. Traçar uma carreira com GPS e executar o caminho no menor tempo possível pode até garantir sucesso, mas nunca garante que você se sente naquela cadeira sonhada e sinta-se minimamente realizado.
Então às vezes nós temos que parar e nos perguntar: para quem estamos construindo as nossas vidas? Para quais olhares estamos direcionando nossas imagens? Para os nossos ou para os dos outros? Será que não estamos dedicando tempo demais às aparências e será que um dia isso não vai nos custar muito caro? Porque, no fim das contas, os cargos se vão, o prestígio se vai e só o que resta é a opinião que nós mesmos temos sobre a estrada percorrida.

Ruth Manus, in Um dia ainda vamos rir de tudo isso

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