“Tinha é que morrer mais”, “tinha era que ter uma chacina por semana”, um disse, e se no início era o verbo, era-o também no fim, porque se fez a escuridão e deus viu que era bom, dia último. E os homens e mulheres olharam para trás e todos se transformaram em estátuas de sal, para sempre imobilizados e inteiros, sem que o ar nem a umidade nem as bactérias jamais pudessem afetá-los para que os seres do futuro os vissem no estado em que foram estancados: boquiabertos e nus, atravessados os olhos por um estupor tardio, que não pode, no tempo necessário, fazer o que quis, não fazer o que pode.
Noemi Jaffe, in Não está mais aqui quem falou
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