Quando Deus fez o primeiro dos índios wawenock, ficaram alguns restos de barro sobre o chão do mundo. Com essas sobras, Gluskabe se fez a si mesmo.
– E tu, de onde saíste? – perguntou Deus, atônito, lá das alturas.
– Eu sou maravilhoso – disse Gluskabe. – Ninguém me fez.
Deus parou ao seu lado e estendeu a mão para o universo.
– Olhe minha obra – desafiou. – Já que és maravilhoso, mostra-me que coisas inventaste.
– Posso fazer o vento, se quiser.
E Gluskabe soprou com toda sua força.
E o vento nasceu e morreu em seguida.
– Eu posso fazer o vento – reconheceu Gluskabe, envergonhado –, mas não posso fazer com que o vento dure.
E então soprou Deus, e tão poderosamente, que Gluskabe caiu e perdeu todos os cabelos.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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