Agora
meu nome é José João. Ando pelas ruas, procurando. Sim, fugindo
também. Não vou dizer o que estou procurando, nem de quem estou
fugindo. Só posso dizer que procurei nas ourivesarias, na loja de
bolsas, nas latrinas, nos parques, nos carros estacionados nas ruas,
nas cestas de mercadorias dos supermercados, nos carrinhos de pipoca.
Encontrarei
o que procuro?
Eles
que me procuram encontrarão?
Às
vezes sinto como se estivesse desmoronando. Fico um tempo
desmantelado, sentado num banco da praça. As praças existem para
isso. Bancos e estátuas e plantas. Árvores. Procurei nos galhos.
Nem passarinho encontrei.
Sentado
na praça? Eu devia estar maluco, na praça eles me achariam, eles
não desistem, eles com aquela roupa branca parecem uns fantasmas.
Eu
gostaria de poder me esconder na casa de um dos meus parentes, mas os
parentes nem mesmo me visitavam, como iam ceder a casa para eu me
esconder?
Eu
corria perigo. Estúpido, andando na calçada de uma rua larga. Eu
tinha que estar escondido num arbusto, aqueles com seis metros de
altura. Mas na rua, na rua! Na rua eu corria perigo.
O
carro parou perto de mim.
Saltaram
dois homens, eles, eles, eles, com aquela roupa branca. Eles nunca
tiram aquela roupa branca.
Um
deles me segurou pelo braço. Eles têm uma maneira de segurar você
pelo braço que não machuca, mas, se você quer se soltar, não
consegue.
“Vamos,
senhor Antonio, vamos.”
“Meu
nome não é Antonio, é José João.”
“Sim,
senhor José João. Vamos, por favor, vamos para o hospital.”
Ele
me segurava pelo braço daquela maneira. Não adiantava eu querer me
soltar.
Acho
que me deram a injeção dentro do carro.
Eles
vivem me dando injeções.
Estou
na cama, com aquela camisola que deixa a minha bunda de fora.
Um
deles entrou no quarto.
“Está
na hora da sua injeção.”
Rubem
Fonseca, in Histórias curtas
Nenhum comentário:
Postar um comentário