Houve
uma professora que, fazendo um relatório, referiu-se às “atividades
desafinadoras para seus alunos...”. Ela não é culpada. Já se
tornou praxe usar palavras que não se entende por serem palavras da
moda. Quando uma palavra da moda é usada, ninguém se atreve a
perguntar: “Mas o que essa palavra significa?”. Fazer tal
pergunta é confessar ignorância. Nos tempos em que tentei ensinar
na universidade, tempos de fervor religioso marxista, tudo se
resolvia com a palavra “dialético”. Ai daquele que perguntasse:
“Mas o que é dialético?”. Talvez o “desafinadoras” tenha um
sentido. Os mestres zen se esforçavam sempre por introduzir
desafinações nas afinações dos seus discípulos. Ouvidos que
ouvem tudo afinado devem estar estragados. É preciso ouvir as
desafinações do mundo!
Rubem
Alves, in Ostra feliz não faz pérola
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