quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

A loba




Café da manhã tomado e o exíguo equipamento de acampar amarrado no trenó, os homens viraram as costas ao fogo alentador e lançaram-se pela escuridão. Logo começaram os gritos ferozmente tristes – gritos que chamavam através da escuridão e do frio e que respondiam aos chamados. A conversa cessou. A luz do dia apareceu às nove horas. Ao meio-dia o céu animou-se com um tom cor-de-rosa, marcando o ponto em que o volume da terra intervinha entre o sol meridiano e o mundo do norte. Mas a cor rosa rapidamente se esvaeceu. A restante luz cinzenta do dia durou até as três horas, quando ela também morreu, e o manto da noite ártica desceu sobre a terra solitária e silenciosa.
Quando sobreveio a escuridão, os gritos de caçada à direita, à esquerda e na retaguarda chegaram mais perto – tão perto que mais de uma vez provocaram surtos de medo entre os achorros, mergulhando-os em breves acessos de pânico.
Na final de um desses acessos, quando ele e Henry tinham posto os cachorros de volta nos tirantes, Bill disse:
Gostaria que eles encontrassem caça em algum lugar, fossem embora e nos deixassem em paz.
Eles dão nos nervos de um modo horrível – simpatizou Henry.
Não falaram mais até o acampamento estar pronto.
Henry estava se inclinando e pondo um pouco de gelo na panela borbulhante de feijões, quando foi surpreendido pelo som de um golpe, uma exclamação de Bill, um grito e um rosnado agudo de dor vindo do meio dos cachorros. Endireitou-se a tempo de ver uma forma vaga desaparecer pela neve e se abrigar da escuridão. Depois viu Bill, de pé entre os cachorros, meio triunfante, meio de crista caída, numa das mãos um grande pedaço de pau, na outra o rabo e parte do corpo de um salmão curado pelo sol.
Pegou metade do peixe – anunciou –, mas eu lhe dei uma cacetada assim mesmo. Você ouviu o guincho?
Como era? – perguntou Henry.
Não pude ver. Mas tinha quatro patas, boca, pelo e se parecia com qualquer outro cachorro.
Imagino que deve ser um lobo domesticado.
Domesticado na certa, seja o que for, vindo aqui na hora da comida para pegar seu pedaço de peixe.
Naquela noite, quando, terminada a ceia, eles sentaram-se sobre a caixa oblonga e tiraram baforadas de seus cachimbos, o círculo de olhos brilhantes chegou ainda mais perto do que antes.
Gostaria que eles levantassem um bando de alces ou algo assim, fossem embora e nos deixassem em paz – disse Bill.
Henry resmungou com uma entonação que não era de todo simpática, e por um quarto de hora ficaram sentados em silêncio. Henry fitando o fogo e Bill, o círculo de olhos que ardiam na escuridão um pouco além da luz do fogo.
Gostaria que estivéssemos entrando no McGurry agora – começou de novo.
Acabe com esses seus desejos e lamentos – explodiu Henry com raiva. – Acidez no estômago. Isso é que está afligindo você. Tome uma colher de bicarbonato que vai ficar mais aliviado e ser uma companhia mais agradável.
De manhã, Henry foi despertado por pragas ardentes que provinham da boca de Bill. Henry se escorou sobre um cotovelo e olhou para ver o companheiro de pé entre os cachorros ao lado do fogo reabastecido, os braços erguidos no meio de uma invectiva, o rosto distorcido pela paixão.
Ei! – chamou Henry. – Que há agora?
Rã se foi – veio a resposta.
Não.
Estou lhe dizendo que sim.
Henry pulou para fora dos cobertores e se aproximou dos cachorros. Contou-os com carinho, e depois juntou-se ao parceiro nas pragas contra os poderes da Floresta que lhes tinham roubado outro cachorro.
Rã era o cachorro mais forte de todo o bando – pronunciou Bill finalmente.
E não era nenhum bobo – acrescentou Henry.
E assim foi registrado o segundo epitáfio em dois dias.
Tomaram um café da manhã sombrio, e os quatro cachorros restantes foram arreados ao trenó. O dia foi uma repetição dos que já tinham passado. Os homens labutavam sem falar pela superfície do mundo gelado. O silêncio só era rompido pelos gritos dos perseguidores,que, ocultos, mantinham-se na retaguarda. Com o cair da noite no meio da tarde, os gritos soavam mais perto, enquanto os perseguidores aproximavam-se conforme seu costume. E os cachorros ficavam excitados e assustados, culpados do pânico que enredava os tirantes e deprimia ainda mais os dois homens.
Pronto, isso vai lhes ensinar, suas criaturas tolas – disse Bill com satisfação naquela noite, endireitando-se depois de concluir a sua tarefa.
Henry deixou o que estava cozinhando para ir dar uma olhada. O seu parceiro não só marrara os cachorros, como os tinha atado, à maneira dos índios, com varas. Ao redor do pescoço de cada cachorro, ele colocara uma correia de couro. Nessa correia, e tão perto do pescoço que o cachorro não podia pôr os dentes nela, amarrara uma vara bem forte de 1,2m ou 1,5m de comprimento. A outra ponta da vara, por sua vez, era presa com uma correia de couro a uma estaca enterrada no chão. O cachorro não tinha possibilidade de roer o couro na ponta de sua vara. E esta o impedia de roer o couro que prendia a outra ponta.
Henry moveu a cabeça aprovando.
É o único meio de segurar Uma Orelha – disse. – Ele rói o couro com a precisão de uma faca afiada e quase com a mesma rapidez. Eles vão estar por aqui de manhã, todos felizes.
Pode apostar – afirmou Bill. – Se um deles desaparecer de novo, fico sem café.
Eles sabem que não temos meios de matá-los – observou Henry na hora de dormir, indicando o círculo brilhante que os cercava. – Se pudéssemos acertar umas duas balas neles, teriam mais respeito. Chegam mais perto a cada noite. Tire a luz do fogo de seus olhos e olhe com atenção... ali! Você viu aquele?
Por algum tempo, os dois homens se divertiram observando o movimento de formas vagas à beira da luz do fogo. Olhando com cuidado e firmeza o lugar em que um par de olhos ardia na escuridão, a forma do animal lentamente adquiria contornos. Às vezes eles até podiam ver essas formas se moverem.
Um som entre os cachorros atraiu a atenção dos homens. Uma Orelha estava emitindo ganidos rápidos e ansiosos, investindo com toda a sua vara estendida na direção da escuridão, e desistindo de vez em quando para ferrar os dentes freneticamente na vara.
Olhe só – sussurrou Henry.
Bem à luz do fogo, com um movimento furtivo e oblíquo, deslizou um animal semelhante a um cachorro. Movia-se com uma mistura de desconfiança e audácia, observando cautelosamente os homens, a atenção fixa nos cachorros. Uma Orelha puxou toda a vara estendida na direção do intruso e ganiu com ansiedade.
Esse tolo do Uma Orelha não parece estar com muito medo – disse Bill em voz baixa.
É uma loba – sussurrou Henry em resposta –, e isso explica Gordo e Rã. Ela é a isca do bando. Atrai o cachorro e depois todo o resto cai em cima da vítima e a devora.
O fogo crepitou. Uma tora rachou ao meio com um estalido bem barulhento. A esse som, o estranho animal pulou de volta à escuridão.
Henry, estou pensando – anunciou Bill.
Pensando o quê?
Acho que foi esse animal que eu espanquei com o cacete.
Não tenho a menor dúvida – foi a resposta de Henry.
E aqui gostaria de observar – continuou Bill – que a familiaridade desse animal com os acampamentos é suspeita e imoral.
Ele sabe seguramente muito mais do que um lobo que se respeite deve saber – concordou Henry. – Um lobo que sabe o bastante para vir se meter entre os cachorros na hora da comida já teve outras experiências.
O Velho Vilão teve certa vez um cachorro que fugiu com os lobos – cogitou Bill em voz alta. – Eu devia saber. Afastei-o do bando com um tiro num pasto de alces lá em Little Stick. E o Velho Vilão chorou como um bebê. Não o via há três anos, disse. Tinha andado com os lobos durante todo esse tempo.
Acho que você acertou em cheio, Bill. Essa loba é uma cachorra, e já comeu muito peixe das mãos do homem.
E se eu tiver uma chance, essa loba que é uma cachorra vai se tornar apenas carne – declarou Bill. – Não podemos nos dar ao luxo de perder mais animais.
Mas você só tem três cartuchos – objetou Henry.
Vou esperar um tiro certeiro – foi a resposta.
Pela manhã Henry reabasteceu o fogo e preparou o café da manhã com o acompanhamento dos roncos de seu parceiro.
Você estava dormindo tão confortavelmente – Henry lhe disse, quando o arrancou da cama para a refeição da manhã. – Não tive coragem de lhe acordar.
Bill começou a comer sonolento. Notou que sua xícara estava vazia e estendeu o braço para pegar o bule. Mas o bule estava além do seu alcance e ao lado de Henry.
Ei, Henry – censurou gentilmente –, você não se esqueceu de nada?
Henry olhou ao redor com muito cuidado e sacudiu a cabeça. Bill ergueu a xícara vazia.
Você não vai tomar café – anunciou Henry.
Acabou? – perguntou Bill ansioso.
Não.
Não está pensando que vai fazer mal para o meu estômago?
Não.
Um rubor de raiva impregnou a face de Bill.
Então estou muito ansioso e todo ouvidos para saber por quê – disse.
Colosso se foi – respondeu Henry.
Sem pressa, com o ar de alguém resignado à desgraça, Bill virou a cabeça e, de onde estava, contou os cachorros.
Como aconteceu? – perguntou apático.
Henry deu de ombros.
Não sei. A não ser que Uma Orelha o tenha soltado, roendo a tira de couro. Sozinho ele não poderia ter saído, disso não tenho dúvida.
Esse vira-lata estúpido – Bill falou em tom grave e pausado, sem nenhum indício da raiva que estava rugindo por dentro. – Só porque não conseguiu roer a tira para se libertar, teve de soltar Colosso.
Bem, os problemas de Colosso se acabaram, de qualquer maneira. Acho que a esta altura ele está digerido e dando pinotes sobre a paisagem nas barrigas de vinte lobos diferentes – foi o epitáfio de Henry para esse cachorro, o último perdido. – Tome um pouco de café, Bill.
Mas Bill sacudiu a cabeça.
Vamos – instou Henry, erguendo o bule.
Bill afastou a sua xícara. – Que o diabo me carregue, se tomar. Disse que ficaria sem café se algum cachorro desaparecesse, e vou manter a minha palavra.
O café está muito bom – disse Henry tentadoramente.
Mas Bill era teimoso, e ele fez uma refeição seca, engolida com pragas resmungadas contra Uma Orelha pela peça que lhes tinha pregado.
Vou amarrá-los um fora do alcance do outro hoje à noite – disse Bill, quando retomaram a trilha.
Tinham andado pouco mais de cem metros quando Henry, que estava na frente, inclinou-se e pegou alguma coisa na qual a sua raqueta de neve tinha batido. Estava escuro, e ele não podia ver o que era, mas reconheceu-a pelo tato. Atirou-a para trás, e ela bateu no trenó e saiu pulando até chegar às raquetas de neve de Bill.
Talvez vá necessitar disso para o que pretende fazer – disse Henry.
Bill proferiu uma exclamação. Era tudo o que havia sobrado de Colosso... a vara com que fora atado.
Eles o devoraram com pelo e tudo – anunciou Bill. – A vara está toda limpa. Eles comeram
o couro das duas pontas. Estão famintos, Henry, e acho que vão pegar você e a mim antes do fim dessa viagem.
Henry riu desafiador.
Nunca fui perseguido por lobos antes, mas já passei por coisa muito pior e saí são e salvo.
É preciso mais que um punhado dessas criaturas detestáveis para liquidar o sinceramente seu, Bill, meu filho.
Não sei, não sei – resmungou Bill agourento.
Bem, você vai ficar sabendo quando entrarmos no McGurry.
Não estou me sentindo especialmente entusiasmado – persistiu Bill.
Você não está bem, esse é que é o seu problema – dogmatizou Henry. – O que você precisa é quinino, e vou lhe dar uma dose de arrasar assim que chegarmos a McGurry.
Bill resmungou o seu desacordo com o diagnóstico e calou. O dia foi como todos os outros.
A luz apareceu às nove horas. Ao meio-dia o horizonte sul foi aquecido pelo sol invisível, e depois começou o cinza frio da tarde que se mesclaria, três horas mais tarde, com a noite.
Foi pouco depois dos esforços vãos do sol para aparecer que Bill tirou o rifle de onde estava, embaixo das amarras do trenó, e disse:
Você continua adiante, Henry, vou ver o que consigo descobrir.
É melhor ficar perto do trenó – protestou o seu parceiro. – Você só tem três cartuchos, e não há como prever o que poderá acontecer.
Quem está gemendo agora? – perguntou Bill triunfante.
Henry não deu resposta e continuou a se arrastar sozinho, embora frequentemente lançasse olhares ansiosos para trás na solidão cinzenta em que seu parceiro tinha desaparecido. Uma hora mais tarde, aproveitando os atalhos que o trenó tinha de utilizar, Bill apareceu.
Estão espalhados e errando bem ao largo – disse. – Acompanhando nosso passo e procurando caça ao mesmo tempo. Sabe, eles estão seguros de nós, só que sabem que têm de esperar para nos pegar. Enquanto isso, querem apanhar qualquer coisa comestível que estiver à mão.
Você quer dizer que eles acham que estão seguros em relação a nós – objetou Henry mordazmente.
Mas Bill o ignorou.
Vi alguns deles. Estão bem magros. Não têm o que comer há semanas, acho, exceto Gordo, Rã e Colosso. E são tantos que isso não deu para muita coisa. Estão impressionantemente magros. As costelas são tábuas de lavar roupa, e o estômago está todo encolhido contra a espinha. Estão desesperados, pode crer. Eles ainda vão ficar loucos, e depois disso, cuidado.
Alguns minutos mais tarde, Henry, que agora andava atrás do trenó, emitiu um assobio baixo e de alerta. Bill se virou e olhou, depois parou os cachorros sem fazer alarde. Atrás, na última curva e claramente à vista, na mesma trilha que tinham acabado de percorrer, vinha uma forma peluda e furtiva. O focinho estava grudado na trilha, e ela se movia com um passo peculiar, deslizante e desembaraçado. Quando eles pararam, ela parou levantando a cabeça e olhando-os firme com narinas que se crispavam, enquanto captavam e estudavam o cheiro dos homens.
É a loba – sussurrou Bill.
Os cachorros tinham se deitado na neve, e Bill passou por eles para juntar-se ao parceiro perto do trenó. Juntos, observaram o estranho animal que os perseguira por dias e já conseguira a destruição de metade da sua matilha.
Depois de um exame minucioso, o animal deu alguns passos para frente. Repetiu a manobra várias vezes, até estar a apenas uns cem metros de distância. Parou perto de um grupo de abetos, a cabeça erguida, e com a vista e o faro estudou o equipamento dos homens que a observavam. Olhou para eles de um modo estranhamente sequioso, como um cachorro, mas no seu anseio não havia nada do afeto de um cachorro. Era o anseio gerado pela fome, tão cruel como as suas presas, tão impiedoso como a própria geada.
Era grande para um lobo, a sua estrutura magra anunciando as linhas de um animal que estava entre os maiores da sua espécie.
Chega quase a uns setenta e cinco centímetros de altura nos ombros – comentou Henry. – E aposto que não está longe de um metro e meio de comprimento.
Cor estranha para um lobo – foi a crítica de Bill. – Nunca tinha visto um lobo vermelho antes. Parece quase cor de canela para mim.
O animal não era certamente cor de canela. O seu pelo era um verdadeiro pelo de lobo. A cor predominante era o cinza, mas havia nela um leve matiz avermelhado – um matiz desconcertante, que aparecia e desaparecia, que era mais como uma ilusão de ótica, ora cinza, nitidamente cinza, ora dando indícios e vislumbres de um vermelho vago, não classificável em termos de experiência comum.
Parece um grande cachorro husky – disse Bill. – Não ficaria surpreso se começasse a abanar o rabo.
Ei, husky! – chamou. – Venha cá, seu qualquer-que-seja-o-seu-nome!
Não está nem um pouco com medo de você – riu Henry.
Bill abanou a mão ameaçadoramente e deu um grito, mas o animal não demonstrou medo.
A única mudança que se pôde perceber foi uma posição de alerta. Ainda os considerava com o anseio impiedoso da fome. Eles significavam carne, e o animal estava com fome, gostaria de se aproximar e comê-los, se tivesse coragem.
Olhe aqui, Henry – disse Bill, abaixando inconscientemente a voz para um sussurro por causa do que pensava fazer. – Temos três cartuchos. Mas é um tiro certeiro. Não tenho como errar. Ela já liquidou três dos nossos cachorros, e temos de pôr um fim a isso. O que você acha?
Henry acenou consentindo. Bill retirou cautelosamente o rifle de seu lugar embaixo das amarras do trenó. A arma estava a caminho do seu ombro, mas nunca chegou a esse destino.
Naquele instante, a loba pulou de lado para fora da trilha, entrou num grupo de abetos e desapareceu.
Os dois homens se olharam. Henry deu um assobio longo e compreensivo.
Eu devia saber – Bill censurou-se em voz alta, enquanto recolocava a arma no lugar. – Claro que um lobo que sabe o bastante para se meter entre os cachorros na hora da comida saberia tudo sobre armas de fogo. Vou lhe dizer uma coisa, Henry, essa criatura é a causa de todos os nossos problemas. Teríamos seis cachorros a essa altura, em vez de três, se não fosse por ela. E vou lhe dizer mais, Henry, vou pegar essa loba. Ela é esperta demais para ser baleada em campo aberto. Mas vou armar uma emboscada para ela. Vou agarrá-la na emboscada, ou não me chamo Bill.
É melhor não se afastar muito para armar essa emboscada – avisou o seu parceiro. – Se esse bando começar a pular em cima de você, esses três cartuchos não vão valer mais do que três gritos no inferno. Esses animais estão terrivelmente famintos e, uma vez no ataque, vão certamente pegar você, Bill.
Eles acamparam cedo naquela noite. Três cachorros não podiam arrastar o trenó tão rápido nem por tantas longas horas quanto seis, e eles estavam mostrando sinais inequívocos de fadiga. E os homens foram cedo para a cama, Bill cuidando primeiro para que os cachorros fossem atados fora do alcance dos dentes uns dos outros.
Mas os lobos estavam se tornando mais ousados, e os homens foram despertados mais de uma vez de seu sono. Tão perto chegavam os lobos que os cachorros entravam em pânico, e era necessário reabastecer o fogo de tempos em tempos para manter os saqueadores aventureiros a uma distância mais segura.
Ouvi marinheiros falarem de tubarões perseguindo um navio – observou Bill, enquanto se arrastava de volta para baixo dos cobertores depois de um desses reabastecimentos do fogo. – Bem, esses lobos são tubarões terrestres. Sabem o que fazer melhor do que nós, e não estão seguindo a nossa trilha por nada. Eles vão nos pegar. Estão certos de que vão nos pegar, Henry.
Já meio que pegaram você, falando desse jeito – replicou Henry áspero. – Um homem já está meio derrotado quando diz que está. E você já está meio comido pela maneira como está se comportando.
Eles já venceram homens melhores que você e eu – respondeu Bill.
Oh, pare com esses seus lamentos. Você me mata de cansaço.
Henry rolou zangado para o lado, mas ficou surpreso de Bill não ter respondido com um ataque semelhante de raiva. Não era o jeito de Bill, pois ele se zangava facilmente com palavras ásperas. Henry pensou muito antes de dormir, e quando as pálpebras abaixaram trêmulas e ele cochilou, o pensamento em sua mente era: “Não há como negar, Bill está muito deprimido. Vou ter de animá-lo amanhã”.
Jack London, in Caninos Brancos

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