terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Ali


Ele foi uma borboleta e uma abelha. No ringue, ele flutuava e picava.
Em 1967, Muhammad Ali, nascido Cassius Clay, se recusou a vestir um uniforme.
Não tenho nada contra nenhum vietcongue”, ele disse. “Nenhum vietnamita nunca me chamou de ‘preto’”.
Eles o chamaram de traidor. Eles o sentenciaram a cinco anos de prisão e o barraram de lutar boxe. Eles tiraram seu título de campeão do mundo.
A punição se tornou seu troféu. Ao lhe tirarem a coroa, eles o transformaram em rei.
Anos depois, alguns estudantes universitários lhe pediram para recitar alguma coisa. E, para eles, improvisou o poema mais curto na história da literatura:
Eu, nós”.
Eduardo Galeano, in Espelhos – uma história quase universal

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