Dois
assaltantes assaltaram-se mutuamente e foram separados por um
terceiro assaltante, que exigiu deles o produto dos dois assaltos.
Como eram dois contra um, acabaram subjugando o terceiro e reclamaram
não só a devolução do que lhe haviam cedido como ainda o que ele
já trazia no bolso.
Foram
atendidos, mas continuou a pendência, pois o assaltante nº 1 queria
de volta o que perdera e o que ganhara, o nº 2 pretendia o mesmo, e
o nº 3 tentou acalmá-los, ao mesmo tempo que pleiteava a devolução
do seu e mais cinquenta por cento do que pertencia a cada. Esclareceu
que, desistindo do total, contribuía para a união e harmonia da
classe.
Os
outros não se mostraram persuadidos e, à falta de tribunal
especializado que dirimisse a questão, acordaram em submetê-la ao
julgamento de um passante que, pelo aspecto, merecesse fé. O senhor
bem vestido, de roupa escura, que se aproximou e ouviu a exposição
do caso, abanou a cabeça lamentando:
— Não
posso decidir contra colegas. Também sou assaltante.
E
deu no pé, antes que os três lhe reclamassem o dele.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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