Foi
então que, tendo repelido os apalaches, fiz meus quartéis de verão
nas Ilhas Ébrias.
Ora,
em uma dessas ilhas, a que tem o nome de Almenara, havia um homem
chamado Emiliano;
Que
vivia em uma choupana diante de uma pequena Angra, por isso mesmo
conhecida como Angra Emiliana.
Pois
há homens que são como cabos, outros que semelham ilhas, outros que
parecem cubos de concreto.
Mas
Emiliano é como que uma angra; nele todos os barcos têm porto
inseguro, mas franco; e farta aguada.
Embora
o perigo das cascavéis.
O
clima é harto quente, mas chuvoso; e há ninfas.
No
Calendário Emiliano os dias não se juntam em meses e anos, mas em
procissões e piracemas.
E
as noites são negras e brilhantes como auroras secretas. São como
auroras.
Nossos
baralhos tinham passado pelas mãos de muitas gerações, e mal se
distinguia neles um rei de uma sota.
Jogávamos
incessantemente, apostando cocos, siris e barregãs.
E
o fumo de nossos vícios formava uma nuvem sobre nossas cabeças.
E
jogávamos sempre e sempre, dizendo blasfêmias.
Até
que essa nuvem, pejada e enegrecida, se rompia em raios e aguaceiros.
Sobre as nossas cabeças.
Quando
o mulungu dava suas flores, esse dia era chamado domingo.
E
frequentávamos as moitas de pitangueiras e comíamos tristes
jenipapos que as velhas mulheres da aldeia assavam com açúcar preto
em seus fornos de barro.
Porém,
quando soprava o sudoeste, Emiliano d’Almenara envolvia-se no
silêncio de seus brocados barrocos.
Então
não havia chamá-lo para os jogos nem para as danças e cauim;
Porque
seu coração era enegrecido de soberba.
Emiliano
d’Angra.
D’Angra
d’Almenara.
Assim
chamada por um facho que em muitas noites antigas era visto ardendo
sobre o rochedo.
Era
o coração de Emiliano ardendo sobre o rochedo.
Rubem
Braga,
in Ai de ti,
Copacabana
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