Quando
acontece de eu receber um e-mail sem ter certeza se quem assina é
homem ou mulher, geralmente descubro uma pista dentro da mensagem
mesmo. Ou a pessoa diz “sou sua fã” ou termina enviando “um
abraço do... ”. O Nadir poderia ter feito isso, assinado “Um
abraço do Nadir”, e eu não teria passado a vergonha de ter
mandado uma resposta iniciando com “Querida Nadir”.
O
Nadir, meu leitor, ficou bravo comigo. Disse que eu deveria saber que
Nadir é um nome árabe masculino. Desculpe, Nadir. Mas é que há
muitas Nadir também. Anos atrás, quando a Luiza Brunet pensou em se
dedicar à carreira de atriz, ela fez um personagem de novela que se
chamava Nadir. Tem coisa mais inquestionavelmente mulher do que a
Luiza Brunet?
As
Nadir e os Nadir talvez passem por esse tipo de engano com alguma
frequência quando o contato não é visual. Por telefone, onde não
raro confundimos voz de mulher e de homem, deve ser uma bola fora
atrás da outra. Na hora de preencher cadastro, também. Como assim,
Nadir, 1m89, 97 quilos, treinador de jiu-jitsu e casado com a Leila?
Mas, ora, quem garante que uma Nadir não possa ser alta, forte e
casada com uma moça? Ah, os tempos modernos. De qualquer forma, os
pais, ao registrarem seus filhos, poderiam ser mais facilitadores.
Eurípedes
concorda. A dona Eurípedes. Ela conta que seus três filhos já
ouviram muita piada por terem como pais Roberto e Eurípedes. E a
Donizete fica furiosa quando não reconhecem seu nome como sendo de
mulher. Diz que a família das “etes” não deixa dúvida:
Elizabete, Claudete, Bernadete, Janete. Pelo visto ela nunca ouviu
falar daquele jogador que chegou à seleção e foi campeão
brasileiro pelo Botafogo.
A
Yuri, que é cabeleireira, também não gosta de dar explicação,
mas se conformou. Sabe que existiu um Yuri Gagarin que foi mais
famoso que ela. As Yuri passaram a ser confundidas com os rapazes.
Nomes
estrangeiros, uma sinuca. Kim Novak, Kim Basinger, Kim Kardashian:
várias gerações de Kim glamourosas, e aí surge o belo Kim Ricelli
pra mostrar que é tão Kim quanto. Se for nome francês, então.
Pergunte a um Renê ou a uma Etienne. Ou a uma Renê e a um Etienne.
Sasha,
todos sabem, é filha da Xuxa, e não filho, mesmo com um nome russo
masculino. E admito, envergonhada, que a primeira vez que ouvi falar
de George Sand, nome expressivo da literatura francesa do século
XIX, nem me passou pela cabeça que pudesse ser mulher. Chamava-se na
verdade Amandine Aurore, mas passou a assinar seus livros como George
Sand e assim ficou eternizada. O escritor moçambicano Mia Couto já
recebeu vestidos e brincos de presente por conta do mesmo equívoco.
Do
que se conclui que assinar e-mail com Abraço, Nadir é provocação.
Por favor: do Nadir, da Nadir. E assim seremos todos felizes.
Martha
Medeiros, in A graça da coisa
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