sábado, 14 de maio de 2011

Nadando

Por incrível que pareça,

talvez o melhor estilo

para um poeta moderno

seja o estilo clássico, ou

nado de peito. Ele exige

certa contenção.  Você

desliza n'água mansa-

mente, como se hesitasse. 

Ao atingir a borda, é

impossível virar cam-

balhota, daí talvez ele

ser chamado clássico, ou

quem sabe é porque é o que serve

melhor para se observar

o que se passa ao redor,

isto é, fotografá-lo, ou

— evitando o anacronismo,

e já que falamos de água —

espelhá-lo, visto que o

espelho é por excelência

a metáfora do clássico.

Nadar é como uma cobra:

um constante enrodilhar-se

em pensamento por vezes

nada sublimes (que belo

traseiro ali adiante, etc.);

daí, em vez de estilo clássico,

talvez fosse mais correto

falar-se em mescla de estilos. 

Nadar: um poema longo

em redondilha maior

com andamento de prosa

em que é difícil manter

o mesmo ritmo sempre

Poe não dizia que um poema

deve necessariamente

ser breve?. Começa-se a

arfar, os músculos pesam,

respira-se irregular-

mente, o nado, apesar de

clássico, agora assemelha-se

a um poema moderno

(ou a um desaprendizado),

um poema que tivesse

uma piscina por tema,

e um nadador que insistisse,

já que escrever poesia

(principalmente hoje em dia)

é uma espécie de nada. 

Nada.  Nada.  Nada.  Nada.


João Moura Jr.

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