Quando assumir os títulos “benigno,”
“modesto,” “verdadeiro,” “racional,” “equânime,” e
“magnânimo,” cuide para não os perder. Caso os perca,
recupere-os rapidamente.
Lembre-se:
I. A racionalidade designa a atenção
discriminativa a cada objeto e a abstenção da negligência.
II. A equanimidade é a aceitação
voluntária das porções atribuídas pela natureza comum.
III. A magnanimidade é a elevação
da parte inteligente acima das sensações prazerosas ou dolorosas da
carne, da pobre fama, da morte e de trivialidades parecidas.
Caso os preserve — sem exigir que
seja reconhecido por eles —, será outra pessoa e entrará em outra
vida. Permanecer como tem sido até agora — e ser despedaçado e
contaminado — é característico de um homem estúpido e apaixonado
por viver. Seria comparável àqueles gladiadores parcialmente
devorados por feras selvagens e cobertos por feridas e sangue:
suplicam pela sobrevivência até o dia seguinte, embora serão
expostos à mesma situação e às mesmas garras e presas.
Sendo assim, apoie-se nesses poucos
títulos. Se estiver apto, permaneça com eles como se tivesse
partido para a ilha dos bem-aventurados. Se notar que está perdendo
eles e o controle, vá corajosamente para algum recanto onde possa
recuperá-los ou parta de vez — sem paixões, com singeleza,
liberdade e modéstia e completando, ao menos, um bom ato partindo
desse jeito.
Recordar-se dos deuses ajuda a
memorizar esses títulos. Desejam não a lisonja, mas sim que os
seres racionais ajam como eles. Recorde-se: só a figueira frutifica
figos, só o cão late, só a abelha produz mel e só o homem realiza
o trabalho de um homem.
Marco Aurélio, em Meditações
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