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Mas
havia um pouco de ação. Um cara foi flagrado na mesma escadaria em
que eu tinha me trancado. Foi pego lá com a cabeça debaixo da saia
de uma garota. Então uma das garotas que trabalhava no refeitório
reclamou que não tinha sido paga conforme prometido, por um pouco de
sexo oral que ela tinha praticado com um gerente de seção e três
carteiros. Demitiram a garota e os três carteiros e rebaixaram o
gerente a supervisor.
Foi
quando botei fogo nos Correios.
Eu
havia sido mandado para as correspondências de quarta categoria e
estava fumando um charuto, tirando um maço de correspondências de
um carrinho quando um cara se aproximou e disse:
— EI,
SUAS CARTAS ESTÃO PEGANDO FOGO!
Olhei
em volta. Ali estava. Uma pequena chama começava a se erguer como
uma cobra bailarina. Evidentemente, um pouco de cinza em brasa do
charuto tinha caído ali antes.
— Puta
merda!
A
chama se alastrou depressa. Peguei um catálogo e, mantendo-o
esticado, bati sobre o foco. Faíscas voaram. Estava quente. Tão
logo apaguei uma parte, outra pegou fogo.
Escutei
uma voz:
— Ei!
Sinto cheiro de fogo!
— NÃO
SE SENTE CHEIRO DE FOGO — gritei —, SENTE-SE CHEIRO DE FUMAÇA!
— Acho
que vou dar o fora daqui!
— Foda-se,
então — gritei —, DÊ O FORA!
As
chamas queimavam minhas mãos. Eu tinha que salvar os Correios dos
Estados Unidos, todo aquele lixo de correspondências de quarta
classe.
Finalmente,
consegui controlar o incêndio. Usando o pé, empurrei a pilha
inteira de papéis para o chão e pisei no último foco de cinza
vermelha.
O
supervisor se aproximou para me dizer alguma coisa. Fiquei ali
parado, o catálogo queimado na mão, a esperá-lo. Ele me olhou e se
afastou.
Depois
disso, retomei a organização daquele lixo de correspondência de
quarta classe. Separava tudo que estivesse queimado.
Meu
charuto tinha morrido. Não voltei a acendê-lo.
Minhas
mãos começaram a doer e fui até o bebedor, coloquei-as debaixo
d’água. Não ajudou.
Encontrei
o supervisor e pedi-lhe uma dispensa para ir até a sala da
enfermeira.
Era
a mesma que costumava ir à minha porta perguntar:
— Qual
é o problema agora, sr. Chinaski?
Quando
entrei, ela disse a mesma coisa de novo.
— Lembra-se
de mim, não é? — perguntei.
— Ah,
sim, sei que o senhor teve umas noites realmente doentes.
— Ô
— eu disse.
— Ainda
há mulheres lá no seu apartamento? — perguntou.
— Sim.
Há homens no seu?
— Tudo
bem, sr. Chinaski, o que o traz aqui?
— Queimei
minhas mãos.
— Deixe
eu ver. Como queimou as mãos?
— Isso
importa? Elas estão queimadas.
Ela
começou a passar alguma coisa nas minhas mãos. Um de seus peitos
roçou em mim.
— Como
aconteceu, Henry?
— Charuto.
Eu estava parado perto de um carrinho da quarta classe. Deve ter
caído brasa ali dentro. As chamas subiram.
O
peito voltou a roçar em mim.
— Mantenha
suas mãos paradas, por favor!
Então
ela apoiou todo o flanco contra mim enquanto espalhava uma pomada em
minhas mãos. Eu estava sentado num banco.
— Qual
é o problema, Henry? Você parece nervoso.
— Bem...
você sabe como é, Martha.
— Meu
nome não é Martha. É Helen.
— Vamos
nos casar, Helen?
— O
quê?
— Quero
dizer, quando vou poder voltar a usar minhas mãos?
— Pode
usá-las agora mesmo se tiver vontade.
— O
quê?
— Quero
dizer, no trabalho.
Ela
as enrolou com umas gazes.
— Sinto-me
melhor — eu disse.
— Você
não devia queimar as cartas assim.
— Era
só lixo.
— Toda
correspondência é importante.
— Tudo
bem, Helen.
Ela
voltou à sua mesa e eu a segui. Preencheu a folha de dispensa.
Estava muito bonita em seu pequeno chapéu branco. Eu teria de
encontrar um jeito de voltar aqui.
Ela
me viu olhando para seu corpo.
— Muito
bem, sr. Chinaski, acho que é melhor o senhor ir agora.
— Ah,
sim... Bem, obrigado por tudo.
— Faz
parte do serviço.
— Claro.
Charles Bukowski, em Cartas na Rua
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