lembro
na
minha infância o som
de:
“TRAPOS!
GARRAFAS! SACOS!”
“TRAPOS!
GARRAFAS! SACOS!”
foi
durante a
Depressão
e
você podia ouvir as
vozes
muito
antes de avistar a
velha
carroça
e
o
velho
pangaré.
então
você ouvia os
cascos
clop,
clop, clop…
e
então você avistava
o
cavalo e a
carroça
e
isso sempre parecia ocorrer
no
dia
mais
quente do
verão:
“TRAPOS!
GARRAFAS! SACOS!”
oh
aquele
cavalo estava tão
cansado…
fios
de saliva
branca
babando
sempre
que o freio se enterrava
em
sua
boca
ele
puxava uma carga
intolerável
de
trapos,
garrafas, sacos
vi
seus olhos
imensos
em
agonia
suas
costelas
expostas
as
moscas gordas
circulavam
e pousavam sobre
falhas
em seu
couro.
às
vezes
um
de nossos pais
gritava:
“Ei!
Por que você não
alimenta
esse cavalo, seu
merda?!”
a
resposta do homem era
sempre
a
mesma:
“TRAPOS!
GARRAFAS! SACOS!”
o
homem era
inacreditavelmente
sujo,
barba por
fazer,
vestindo um chapéu
de
feltro manchado e
roto
ele
se
sentava sobre
uma
enorme pilha de
sacos
e
vez
ou
outra
quando
o cavalo parecia
vacilar
um
passo
esse
homem
sentava-lhe
o
longo chicote…
o
som era como o
disparo
de um rifle
uma
falange de moscas
se
erguia
e
o cavalo se
lançava
para frente
renovado
os
cascos resvalando e
escorregando
no asfalto
quente
e
então
tudo
o que podíamos
ver
era
a parte de trás da
carroça
e
o
enorme monte de
trapos
e garrafas
cobertos
por
sacos
marrons
e
mais
uma veza voz:
“TRAPOS!
GARRAFAS! SACOS!”
ele
foio primeiro homem
que
tive vontade de
matar
e
desde
então
não
houve
mais
nenhum.
Charles Bukowski, in Miscelânea septuagenária: contos & poemas
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