Atahualpa
Um
arco-íris negro atravessou o céu. O Inca Atahulpa não quis
acreditar.
Nos
dias da festa do sol, um condor caiu sem vida na Praça da Alegria.
Atahualpa não quis acreditar.
Enviava
à morte os mensageiros que traziam más notícias e com um golpe de
machado cortou a cabeça do velho profeta que anunciou-lhe a
desgraça. Fez queimar a casa do oráculo e as testemunhas da
profecia foram passadas à faca.
Atahualpa
mandou amarrar os oitenta filhos de seu irmão Huáscar nos postes do
caminho e os abutres se fartaram de carne. As mulheres de Huáscar
tingiram de sangue as águas do rio Andamarca. Huáscar, prisioneiro
de Atahualpa, comeu merda humana e mijo de carneiro e teve como
mulher uma pedra vestida. Depois Huáscar disse, e foi a última
coisa que disse: Já o matarão como ele me mata. E Atahualpa
não quis acreditar.
Quando
seu palácio foi convertido em seu cárcere, não quis acreditar.
Atahualpa, prisioneiro de Pizarro, disse: Sou o maior dos
príncipes sobre a terra. O resgate encheu de ouro um quarto e de
prata dois quartos. Os invasores fundiram até o berço de ouro onde
Atahualpa havia escutado a primeira canção.
Sentado
no trono de Atahualpa, Pizarro anunciou-lhe que tinha decidido
confirmar sua sentença de morte. Atahualpa respondeu:
– Não
me digas essas bobagens.
Tampouco
quer acreditar, agora, enquanto passo a passo sobe as escadarias,
arrastando correntes, na luz leitosa da madrugada.
Logo
a notícia se difundirá entre os incontáveis filhos da terra que
devem obediência e tributo ao filho do sol. Em Quito chorarão a
morte da sombra que protege: perplexos, extraviados, morta a
memória, sozinhos. Em Cuzco haverá júbilo e bebedeiras..
Atahualpa
está atado pelas mãos, pés e pescoço, mas ainda pensa: Que fiz
eu para merecer a morte?
Aos
pés do patíbulo, se nega a acreditar que foi derrotado pelos
homens. Somente os deuses poderiam. Seu pai, o sol, o traiu.
Antes
que o torniquete de ferro rompa sua nuca, chora, beija a cruz e
aceita que o batizem com outro nome. Dizendo chamar-se Francisco, que
é o nome de seu vencedor, bate nas portas do Paraíso dos europeus,
onde não há lugar reservado para ele.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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