quarta-feira, 3 de abril de 2024

Os Nascimentos | 1533 – Cajamarca

O resgate

Para comprar a vida de Atahualpa, acodem a prata e o ouro. Formigueiam pelos quatro caminhos do império as longas fileiras de Ihamas e a multidão de costas carregadas. O mais esplêndido tesouro vem de Cuzco: um jardim inteiro, árvores e flores de ouro maciço e pedrarias, em tamanho natural, e pássaros e animais de pura prata e turquesa e lápis-lazúli.
O forno recebe deuses e adornos e vomita barras de ouro e de prata.
Chefes e soldados exigem aos gritos a partilha. Faz seis anos que não percebem nada.
De cada cinco lingotes, Francisco Pizarro separa um para o rei. Depois, faz o sinal da cruz. Pede o auxílio de Deus, que tudo sabe, para guardar justiça; e pede o auxílio de Hernando de Soto, que sabe ler, para vigiar o escrivão.
Adjudica uma parte à Igreja e outra ao vigário do Exército. Recompensa longamente seus irmãos e os outros capitães. Cada soldado raso ganha mais do que o príncipe Felipe recebe em um ano e Pizarro se transforma no homem mais rico do mundo. O caçador de Atahualpa entrega a si mesmo o dobro do que em um ano gasta a corte de Carlos V com seus seiscentos criados – sem contar a liteira do Inca, oitenta e três quilos de ouro puro, que é seu troféu de general.

Eduardo Galeano, in Os Nascimentos

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