quinta-feira, 11 de abril de 2024

A Day in the Life, de John Lennon e Paul McCartney


A Day in the Life
Compositores: John Lennon e Paul McCartney
Artista: The Beatles
Gravação: Abbey Road Studios, Londres
Lançamento: Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, 1967

I read the news today, oh boy
About a lucky man who made the grade
And though the news was rather sad
Well I just had to laugh
I saw the photograph

He blew his mind out in a car
He didn’t notice that the lights had changed
A crowd of people stood and stared
They’d seen his face before
Nobody was really sure if he was from
the House of Lords

I saw a film today, oh boy
The English army had just won the war
A crowd of people turned away
But I just had to look
Having read the book

I’d love to turn you on

Woke up, fell out of bed
Dragged a comb across my head
Found my way downstairs and drank a cup
And looking up, I noticed I was late

Found my coat and grabbed my hat
Made the bus in seconds flat
Found my way upstairs and had a smoke
And somebody spoke and I went into a dream

I read the news today, oh boy
Four thousand holes in Blackburn, Lancashire
And though the holes were rather small
They had to count them all
Now they know how many holes it takes to fill the Albert Hall

I’d love to turn you on

A influência do rádio nos Beatles não pode ser subestimada. De fato, você pode pensar no disco Sgt. Pepper como um grande programa de rádio. E entender o nosso uso de efeitos sonoros como um jeito de ampliar nosso repertório e alcance. A EMI era uma gravadora tão abrangente e com tanta diversidade antiga que eles tinham uma biblioteca de sons no mesmo prédio do estúdio. Se eu quisesse incluir o canto dos melros-pretos na canção “Blackbird”, era só localizá-lo no catálogo, fazer o pedido, e alguém ia buscar na biblioteca e trazia a gravação ao estúdio. Então começamos a esquadrinhar essa biblioteca, e foi muito libertador.
Uma das coisas que sempre me intrigou quando criança foi como um apresentador era anunciado no rádio. Digamos que fosse Ken Dodd, o grande comediante de Liverpool. Ele chegava dizendo: “Bem”, e então o público do estúdio dizia “Uau” e caía na gargalhada. A minha cabeça se incendiava. O que será que ele fez? Baixou a calça? Fez uma careta? Mostrou sua famosa varinha de cócegas? O que será que ele fez? Esse mistério me empolgava. Então, eu dizia aos outros caras: “Vamos usar um som da biblioteca, um som do público rindo quando ‘o primeiro e único Billy Shears’ é apresentado para cantar ‘With a Little Help from My Friends’”. Usávamos esse efeito como Ken Dodd. Realmente gostávamos de excitar a imaginação.
E não há força mais poderosa do que a sua imaginação. Com a televisão e os filmes, está tudo mastigado; você enxerga o visual da personagem Henrietta Gibbs. No rádio, você cria a sua própria Henrietta Gibbs. Essa era a grande sacada do Sgt. Pepper. Tentaram fazer um filme disso, mas não deu certo, porque todo mundo já tem seu próprio filme.
A outra grande influência do Sgt. Pepper, que certamente ganha destaque em “A Day in the Life”, é que naquela época eu ouvia muita coisa de vanguarda. Stockhausen. Luciano Berio. John Cage – sabe, a peça silenciosa 4’33’’. Intrigado com tudo isso, eu queria ter um extraordinário momento instrumental no meio de “A Day in the Life”. Daí conversei com George Martin, que fazia o arranjo orquestral. Na mesma linha do coreógrafo Merce Cunningham, que costumava dizer “puxe-os pelo palco com uma corda”, aqui a minha instrução foi para que todos na orquestra começassem com a nota mais baixa em seu instrumento e subissem para a nota mais alta em seu instrumento, ao longo de um certo número de compassos.
No dia da sessão, George Martin teve que ensaiar com eles as diferentes etapas do processo. Julga-se que músicos com formação clássica não gostam da ideia de improvisação, mas achei interessante a divisão da orquestra em grupos. A sessão de cordas era como um grupo de ovelhas: “Se você subir, eu subo junto. Não vou ficar para trás”. Mas os trompetes e os instrumentos de sopro foram muito receptivos à ideia de se expandir, talvez porque seja uma parte meio esquecida da orquestra. Estavam prontos para qualquer coisa.
Estávamos mesmo determinados a evoluir e encontrar meios de agregar todos esses outros componentes ao que era conhecido como música “popular”. Esta ideia nos atraía: a ideia de ampliar – não só seguir – a tradição.

Paul McCartney: As Letras – 1956 até o presente

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