sábado, 11 de novembro de 2023

Conhecendo os sogros


Segundo meu pai, o pai de minha mãe não tinha nenhum pelo no corpo. Ele tinha uma fazenda no campo, onde morava com a mulher, que na época já fazia dez anos que não saía da cama, não falava e não comia sozinha, e ele cavalgava um cavalo enorme, preto, com uma mancha branca em cada uma das pernas, logo acima dos cascos.
Ele adorava minha mãe. Contava histórias incríveis sobre ela desde que ela era pequena, e agora que estava velho e tinha ficado um pouco caduco, parecia acreditar nelas.
Ele achava que ela tinha colocado a lua no céu. Às vezes ele realmente acreditava nisso. Acreditava que a lua só estava no céu porque ela a tinha posto lá. Achava que as estrelas eram desejos, e que um dia todos eles se tornariam realidade. Para ela, sua filha. Dissera isso a ela quando era pequena, para deixá-la feliz, e agora que estava velho acreditava nisso, porque isso o deixava feliz e porque ele estava muito velho.
Ele não foi convidado para o casamento. O motivo é muito simples: ninguém foi convidado. Não foi exatamente um casamento e sim um ato legal no cartório de Auburn, com estranhos como testemunhas e um juiz velho e agitado oficiando, proclamando de modo pachorrento, com cuspe saindo dos cantos da boca, que daquele momento em diante eles eram marido e mulher até que a morte os separasse et cetera. E foi tudo.
Não ia ser fácil explicar isso ao sr. Templeton, mas meu pai quis tentar. Ele foi de carro até o portão da fazenda, onde havia uma placa dizendo PARE E TOQUE A BUZINA, e por coincidência lá estava também o pai da sua mulher, em cima do cavalo gigantesco, olhando desconfiado para o carro de onde sua filha acenava timidamente. Ele abriu o portão tirando um pedaço de madeira de uma ranhura de quinze centímetros feita na cerca, e meu pai entrou devagar, para não espantar o cavalo.
Levou o carro até a porta da casa, com o sr. Templeton atrás a cavalo. Minha mãe e meu pai estavam calados. Ele a olhou e sorriu.
Não há com o que se preocupar — meu pai disse.
Quem está preocupado? — ela respondeu, rindo.
Embora nenhum dos dois parecesse muito à vontade.

PAPAI — ELA DISSE na porta da casa —, quero que você conheça Edward Bloom. Edward, Seth Templeton. Agora apertem as mãos.
Eles obedeceram.
O sr. Templeton olhou para a filha.
Por que eu estou fazendo isso? — ele disse.
Fazendo o quê?
Apertando a mão deste homem?
Porque ele é meu marido. Nós nos casamos, papai.
Ele continuou sacudindo a mão de Edward, olhando bem dentro dos olhos dele. Então riu. E o riso dele pareceu o estouro de fogos de artificio.
Casados! — ele disse, e entrou em casa. Os recém-casados entraram atrás. Ele pegou duas Coca-Colas na geladeira e eles se sentaram na sala, onde o sr. Templeton encheu um cachimbo de cabo de marfim com um tabaco preto e o acendeu, e de repente a sala ficou coberta por uma fina camada de fumaça, pairando sobre suas cabeças.
Agora que história é essa? — ele disse, puxando a fumaça e tossindo.
Era uma pergunta difícil de responder, então nenhum dos dois falou nada. Eles simplesmente sorriram. Edward fitou o homem sem nenhum pelo no corpo, a cabeça parecendo um ovo, e em seguida olhou bem nos olhos dele.
Eu amo sua filha, sr. Templeton. E vou amá-la e cuidar dela pelo resto da minha vida.
Meu pai tinha pensado muito tempo no que iria dizer, e tinha se decidido por aquelas palavras simples mas profundas. Ele achou que diziam tudo o que precisava ser dito, e esperou que o sr. Templeton também achasse.
Bloom, você disse? — o sr. Templeton falou, apertando os olhos. — Conheci um homem chamado Bloom. Andei a cavalo com ele. Eu estava na cavalaria, 1918, 1919. Servindo em Yellowstone. Naquela época havia bandoleiros. Talvez vocês não soubessem disso. Principalmente bandoleiros mexicanos. Ladrões de cavalo ou simplesmente ladrões. Nós perseguimos muitos deles, Bloom e eu. Junto com os outros, é claro. Rogerson, Mayberry, Stimson. Até o México. Ah, sim. Muitos. Nós os perseguimos. Até o México, sr. Bloom. Até o México.
Meu pai concordou com a cabeça, sorriu, tomou um gole de Coca-Cola. O sr. Templeton não tinha ouvido uma palavra do que ele tinha dito.
O senhor tem um belo cavalo — meu pai disse.
Então o senhor entende de cavalos? — ele retrucou, e tornou a rir, sons explosivos, graves. — Você arrumou um homem que entende um pouco de cavalos, não foi, meu bem?
Acho que sim, papai.
Isso é bom — ele disse, balançando a cabeça. — Isso é muito bom.
O dia passou assim. O sr. Templeton contou histórias de seu tempo de cavalaria, e riu, e a conversa rumou para religião e Jesus, um de seus tópicos favoritos, pois ele acreditava que a crucificação fora um ato especialmente covarde, uma vez que Pôncio Pilatos e Jesus tinham sido companheiros de quarto em Oxford. Sob essa perspectiva, Pilatos tinha realmente traído o Senhor. Durante o resto da tarde o casamento não foi mais mencionado — de fato, o sr. Templeton pareceu ter esquecido por que eles estavam lá —, e quando anoiteceu, chegou a hora de irem embora.
Os três se levantaram, os homens tornaram a trocar um aperto de mão, e eles passaram pela porta fechada do quarto e andaram mais devagar. Sandra olhou para o pai que sacudiu negativamente a cabeça.
Não é um bom dia — ele disse. — É melhor não incomodá-la.
E eles então foram embora, os dois, acenando para o velho na noite que caía, e ele acenando de volta e apontando, com a alegria de uma criança, para o céu estrelado.

Daniel Wallace, in Peixe Grande

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