De
uma feita, estava eu sentado sozinho num banco da Praça da Alfândega
quando começaram a acontecer coisas incríveis no céu, lá para as
bandas da Casa de Correção: havia uns tons de chá, que se foram
avinhando e se transformaram nuns roxos de insuportável beleza.
Insuportável, porque o sentimento de beleza tem de ser
compartilhado. Quando me levantei, depois de findo o espetáculo,
havia umas moças conhecidas, paradas à esquina da Rua da Ladeira.
— Que
crepúsculo fez hoje! — disse-lhes eu, ansioso de comunicação.
— Não,
não reparamos em nada — respondeu uma delas. — Nós estávamos
aqui esperando o Cezimbra.
E
depois ainda dizem que as mulheres não têm senso de abstração…
Mário Quintana, in Caderno H
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