Ao
amanhecer, o chamado de uma corneta anunciou, na montanha, que era
hora de arcos e zarabatanas.
Ao
cair da noite, da aldeia não sobrava nada além de fumaça.
Um
homem pôde deitar-se, imóvel, entre os mortos. Untou seu corpo com
sangue e esperou. Foi o único sobrevivente da aldeia palawiyang.
Quando
os inimigos se retiraram, esse homem se levantou. Contemplou seu
mundo arrasado. Caminhou entre a gente que tinha partilhado com ele a
fome e a comida. Buscou em vão alguma pessoa ou coisa que não
tivesse sido aniquilada. Esse espantoso silêncio o aturdia. O cheiro
de incêndio e sangue o enjoavam.
Sentiu
asco, por estar vivo, e tornou a deitar-se entre os seus.
Com
as primeiras luzes, chegaram os abutres. Nesse homem havia apenas
névoa e vontade de dormir e deixar-se devorar.
Mas
a filha do condor abriu passo entre os abutres que voavam em
círculos. Bateu decidida as asas e lançou-se em picada.
Ele
agarrou-se em suas patas e a filha do condor levou-o longe.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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