terça-feira, 10 de maio de 2022

Os imigrantes

O homem e a mulher caminhavam desde às quatro da manhã. O tempo, decomposto na asfixiante calma que precede a tempestade, tornava ainda mais pesado o vapor nitroso do pântano. A chuva caiu por fim, e durante uma hora o casal, encharcado até os ossos, avançou obstinadamente.
A chuva parou. Os dois se olharam, então, com uma angustiante desesperança.
Você tem força para caminhar ainda mais um pouco? — disse ele. — Talvez os alcancemos…
A mulher, lívida e com profundas olheiras, balançou a cabeça.
Vamos — concordou, prosseguindo pelo caminho.
Porém, logo se deteve, interrompendo a caminhada, encolhendo-se, crispada em um galho. O homem, que caminhava adiante, virou-se ao ouvir o gemido.
Não posso mais!… — murmurou ela com a boca retorcida e toda molhada de suor. — Ai, meu Deus!…
O homem, depois de olhar tudo ao seu redor, convenceu-se de que nada poderia fazer. Sua mulher estava grávida. Então, sem saber para onde dar o próximo passo, alucinado pela excessiva fatalidade, cortou folhas e ramos, estendeu-os no solo e deitou sua mulher em cima. Sentou-se numa das extremidades e colocou a cabeça dela sobre suas pernas.
Passou quinze minutos em silêncio.
Logo, a mulher estremeceu bruscamente e foi necessária toda a sua força para conter aquele corpo, que se projetava violentamente para todos os lados pela eclampsia.
Passado o ataque, ficou por um momento sobre a mulher, cujos braços ele prendia na terra com os joelhos. Por fim, restabelecido, afastou-se alguns passos, vacilante, esmurrou o ar à sua frente e tornou a colocar sobre as pernas a cabeça da mulher, estática, mergulhada agora em profundo torpor.
Houve outro ataque de eclampsia, do qual a mulher saiu ainda mais inerte.
Pouco depois, um outro. Porém, ao fim deste, a vida também findou.
O homem percebeu quando ainda estava montado sobre a mulher, reunindo todas as forças para conter as convulsões.
Ficou estarrecido, com os olhos fixos na borbulhante espuma da boca, cujas bolhas sanguinolentas agora escorriam da cavidade escura.
Sem saber o que fazer, tocou a mandíbula dela com o dedo.
Carlota! — disse, com uma voz branca, que não tinha entonação alguma.
O som das palavras fez com que ele voltasse a si. Recompôs-se e olhou para todos os lados com um olhar perdido.
É muita fatalidade — murmurou.
É muita fatalidade… — murmurou outra vez, esforçando-se, entretanto, para entender o que havia ocorrido. Vinham da Europa, disso não havia dúvida. Tinham deixado lá o seu primogênito de apenas dois anos. Ela estava grávida e iam a Makallé com outros companheiros… Estavam bem atrasados e sós, pois ela não podia caminhar normalmente… E em más condições, talvez… talvez sua mulher pudesse correr algum perigo…
Bruscamente, o homem se virou com um olhar enlouquecido:
Morta. Aí!…
Sentou-se de novo, e voltando a colocar a cabeça morta da mulher sobre suas coxas, pensou por quatro horas no que faria.
Não chegou a concluir nada. Quando a tarde caiu, o homem, carregando a esposa sobre seus ombros, tomou o caminho de volta.
Margeavam outra vez o pântano. O matagal se estendia sem fim pela imóvel noite prateada e cheia de zumbidos de mosquitos. O homem, com a nuca inclinada, caminhou com passos iguais, até que a mulher caiu dos seus ombros, bruscamente. Por um instante ele continuou em pé, rígido, e caiu depois dela.
Quando despertou, o sol queimava.
Comeu algumas bananas de filodendro, embora desejasse algo mais nutritivo, pois sabia que, antes de poder depositar em solo sagrado o cadáver de sua esposa, ainda passariam vários dias.
Colocou outra vez sobre os ombros o cadáver, mas suas forças diminuíam.
Amarrando-o, então, com cipós entrelaçados, fez dele um fardo e avançou assim com menos fadiga.
Durante três dias, descansando e seguindo novamente, sob um céu branco de calor, devorado de noite pelos insetos, o homem caminhou e caminhou, sonâmbulo de fome, envenenado por miasmas cadavéricos, toda a sua missão concentrada em uma única e obstinada ideia: arrancar daquele país hostil e selvagem o corpo adorado de sua mulher.
Na manhã do quarto dia, viu-se obrigado a interromper a caminhada e só à tarde pôde prosseguir. Porém, quando o sol já se escondia, um profundo calafrio percorreu-lhe os nervos esgotados, e estendendo o corpo morto sobre a terra, sentou-se ao seu lado.
A noite já havia caído, e o monótono zumbido dos insetos enchia o ar solitário. O homem pôde senti-los tecer uma teia dolorida sobre seu rosto.
Do fundo de sua medula gelada ele não conseguia controlar os calafrios.
A lua ocre-minguante surgiu finalmente por trás do pântano. O mato alto e rígido brilhava até o horizonte em fúnebre mar amarelado. A febre perniciosa subia rapidamente.
O homem olhou para a horrível massa mole que jazia ao seu lado, e cruzando os braços em torno dos joelhos fixou o olhar no pântano venenoso, em cujas distâncias o delírio desenhava uma pequena aldeia da Silésia, para onde ele e sua mulher, Carlota Phoening, regressavam felizes e ricos para buscar seu adorado primogênito.

Horácio Quiroga, in Contos

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