quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Selva selvaggia

As palavras espiam como animais:
umas, rajadas, sensuais, que nem panteras...
outras, escuras, furtivas raposas...
mas as mais belas palavras estão pousadas nas frondes mais altas, como pássaros...
O poema está parado em meio da clareira.
O poema
caiu
na armadilha! debate-se
e ora subdivide-se e entrechoca-se como esferas de vidro colorido
ora é uma fórmula algébrica
ora, como um sexo, palpita... Que importa
que importa qual seja enfim o seu verdadeiro universo?
Ele em breve será inteiramente devorado pelas palavras!

Mário Quintana, in Esconderijos do tempo

Nenhum comentário:

Postar um comentário