As
histórias evolutivas do riso e do sorriso mostram como Jan estava
certo ao propor origens separadas para os dois. Eles se originam de
diferentes cantos do espectro da emoção. Um começou como uma
expressão de medo e submissão, que se tornou um sinal de não
hostilidade e, por fim, de afeição. O outro começou como um
indicador de brincadeira sensível a bagunça e cócegas, depois se
transformou num sinal de vínculo e bem-estar, até de diversão e
felicidade. Ambas as expressões têm se aproximado em nossa espécie,
e, como muitas vezes misturamos emoções, elas acabaram se fundindo.
Com frequência, passamos de um sorriso para uma risada e vice-versa,
ou mostramos misturas dos dois.
Expressões
misturadas são típicas dos hominídeos, a pequena família de
primatas dos seres humanos e símios. Enquanto a maioria dos outros
animais, inclusive macacos, tem vozes e exibições distintas, os
hominídeos se destacam por sua comunicação matizada. Um macaco faz
uma cara de ameaça, um sorriso de dentes à mostra ou uma cara de
quem quer brincar, mas não uma combinação ou mistura dessas
expressões. Seus sinais são fixos e estereotipados, bastante
separados uns dos outros, como se fossem ou azuis, ou vermelhos,
nunca roxos. Trata-se de uma limitação séria em comparação com
os grandes primatas, que facilmente se movem entre uma cara de
beicinho, um gemido e um grito de dentes à mostra. Suas faces estão
em constante movimento para cobrir uma ampla gama de tendências,
mesmo que conflitivas. Da mesma forma, uma criança pode chorar,
depois rir em meio às lágrimas, depois chorar mais.
Usando
uma classificação de 25 expressões faciais, analisamos
literalmente milhares delas na colônia de chimpanzés de Yerkes
durante sua vida cotidiana em seu recinto ao ar livre. Percebemos um
enorme grau de matizes e misturas. Por exemplo, um macho jovem que
procura contato com o macho alfa tem medo e senta-se à distância,
esperando por um sinal simpático. O jovem macho faz sinais
amistosos, como estender a mão ao seu líder com arquejos rápidos,
mas também grunhidos submissos para demonstrar respeito. Ou uma
fêmea está interessada na melancia suculenta de outro, mas fica
aborrecida quando é rejeitada e hesita entre implorar e protestar em
voz alta, o que pode desencadear uma briga. Ela se move entre
beicinhos e gemidos para pedir comida e entre uivos e gritos suaves
que traem a crescente frustração. As interações sociais estão
cheias dessas tendências conflitantes, e as faces dos seres humanos
e dos símios revelam todas elas. Eles mostram não apenas um
instantâneo de uma emoção ou outra, mas todos os tons sutis entre
elas. Estados emocionais independentes são raros, motivo pelo qual é
tão problemático pôr as expressões faciais em caixinhas rotuladas
como “irritado”, “triste” ou outras emoções básicas. Isso
não funciona para nós, nem para nossos companheiros hominídeos.
Frans de Waal, in O último abraço da matriarca
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