Retrato de Pierre Reverdy (1918), de Juan Gris
Nunca chamarei de mágica a poesia de
Pierre Reverdy. Esta palavra, lugar-comum de uma época, é como um
chapéu de farsante de feira: nenhuma pomba selvagem sairá de seu
bojo para levantar voo. Reverdy foi um poeta material que designava e
tocava inumeráveis coisas da terra e do céu. Designava a evidência
e o esplendor do mundo.
Sua poesia em si era como um filão de
quartzo, subterrâneo e esplêndido, inesgotável. Às vezes reluzia
duramente, com fulgor de mineral negro, arrancado arduamente da terra
espessa. Inesperadamente voava numa chispa fosfórica ou se ocultava
em seu corredor de mina, longe da claridade mas preso à sua própria
verdade. Talvez essa verdade, essa identidade do corpo de sua poesia
com a natureza, esta tranquilidade reverdyana, esta autenticidade
inalterável foi-lhe antecipando o esquecimento. Pouco a pouco foi
considerado pelos outros como uma evidência, fenômeno natural,
casa, rio ou rua conhecida, que não mudaria jamais de aspecto nem de
lugar.
Agora que mudou de lugar, agora que um
grande silêncio, maior que seu honorável e orgulhoso silêncio, o
levou, vemos que já não está aqui, que este fulgor insubstituível
se foi, sendo enterrado na terra e no céu.
Digo que seu nome, como anjo
ressuscitado, fará cair algum dia as injustas portas do
esquecimento.
Sem trombetas, aureolado pelo silêncio
sonoro de sua grande e contínua poesia, o veremos no juízo final,
no Juízo Essencial, deslumbrando-nos com a simples eternidade de sua
obra.
Pablo Neruda, in Confesso que vivi
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