Este verso, apenas um arabesco
em torno do elemento essencial —
inatingível.
Fogem nuvens de verão, passam aves,
navios, ondas,
e teu rosto é quase um espelho onde
brinca o incerto movimento,
ai! já brincou, e tudo se fez imóvel,
quantidades e quantidades
de sono se depositam sobre a terra
esfacelada.
Não mais o desejo de explicar, e
múltiplas palavras em feixe
subindo, e o espírito que escolhe, o
olho que visita, a música
feita de depurações e depurações, a
delicada modelagem
de um cristal de mil suspiros límpidos e
frígidos: não mais
que um arabesco, apenas um arabesco
abraça as coisas, sem reduzi-las.
Carlos Drummond de Andrade
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