Nesses vários anos estudando Direito do
Trabalho quase todo santo dia – na graduação, na iniciação
científica, no TCC, em uma pós-graduação no Brasil, em duas pós
na Europa, no mestrado e agora no doutorado –, eu aprendi bastante
coisa.
Aprendi que o Direito do Trabalho é um
dos grandes pilares de um Estado Democrático de Direito. Aprendi que
sem Direito do Trabalho é praticamente impossível que haja a
chamada “dignidade da pessoa humana”.
Aprendi que o verdadeiro Direito do
Trabalho não serve só aos trabalhadores nem é prejudicial às
empresas. O Direito do Trabalho existe para tentar equilibrar uma
relação que é desequilibrada por natureza. Onde não há igualdade
natural, é preciso que haja igualdade jurídica.
Aprendi que as empresas não são
inimigas da sociedade. E que sobretudo as pequenas e microempresas
são as primeiras a sofrer num cenário de crise. E que os
empresários lutam muito para tentar manter as coisas de pé. E que
nunca é fácil. Aprendi a não confundir os pequenos empresários
com as grandes corporações que detêm uma parcela gigantesca do
poder econômico de um país.
Aprendi que o Direito do Trabalho carrega
uma cruz pesada, cheia de estigmas, como se a sua existência fosse
um favor em vez de ser um direito social. Aprendi que, apesar de o
Direito do Trabalho não ser de direita nem de esquerda, ele acaba
distorcido e ameaçado a cada vez que cai nas mãos de quem esteja a
serviço de grandes e específicos interesses.
Aprendi que o Direito do Trabalho sempre
é o primeiro a ser fuzilado. A matéria-prima está cara? Vamos
reduzir os salários. A tributação é absurda? Vamos renegociar as
condições dos trabalhadores. O Estado é corrupto, há milhares de
desvios? Vamos fazer uma reforma trabalhista.
Aprendi que a legislação envelhece e
que é preciso atualizá-la. E que atualizar a lei é exatamente o
oposto de desregulamentar. Que quando um parlamentar diz que está
modernizando a lei e, para tanto, precisa subtrair dezenas de
direitos, isso só pode ser fruto de ignorância ou de má-fé.
Aprendi que em Estados sérios não se
tenta resolver crise econômica com reforma trabalhista. Que uma
coisa não se confunde com a outra. Que afirmar que uma reforma
trabalhista é a salvação de um país em crise é como dizer que é
possível curar um câncer tratando uma tendinite.
Aprendi que a promiscuidade que existe na
relação entre o Estado e as grandes empresas, sobretudo
multinacionais, é uma ameaça muito maior à sociedade do que uma
legislação antiquada. E aprendi que as decisões acerca da lei são
tomadas exatamente por quem não depende delas.
Aprendi a ter dúvidas sobre supostas
vantagens. Aprendi a ter medo de atalhos. Aprendi a desconfiar de
soluções milagrosas. Aprendi que trabalho é sinônimo de luta. E
aprendi que, mesmo quando as coisas tomam rumos tão sombrios, a
gente tem que seguir lutando.
Ruth Manus, in Um dia ainda vamos rir de tudo isso
Nenhum comentário:
Postar um comentário