Musa, não ser um boxeador é
literalmente não existir.
Nos recusaste a multidão ululante.
Uma dúzia de pessoas na sala,
já é hora de começar a fala.
Metade veio porque está chovendo,
o resto é parente. Ó Musa.
As mulheres adorariam desmaiar nesta
noite outonal,
e vão, mas só ao assistir a uma luta
colossal.
Só lá as cenas dantescas.
E o ascenso aos céus. Ó Musa.
Não ser boxeador, ser poeta,
estar condenado a duras florbelas,
por falta de musculatura mostrar ao mundo
a futura leitura escolar — na melhor
das hipóteses —
Ó Musa. Ó Pégaso,
anjo equestre.
Na primeira fila um velhinho sonha
docemente
que a finada esposa ressuscitou e
assa para ele um bolo com passas.
Com fogo, mas não alto, para o bolo não
queimar,
começamos a leitura. Ó Musa.
Wisława Szymborska
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