Como se caminhassem sobre a pele de uma
praia,
no ladrilho dessa pele, podiam ouvir a
respiração
repetida na respiração do outro como
num búzio
o búzio uma só flauta onde nascia o
vento
na voz vizinha que respondia apontando o
peito
que o acolhera confundidos na mesma água
que lhes subia pela cintura num tempo
demorado,
nem sol nem lua, somente essa quadra,
quando
o pensamento desviava de crimes,
imolações,
moedas, suas mãos singravam cristais,
estrelas,
antes de serem órfãs, livres do medo,
rosas
de plástico, abelhas apenas, um
do outro o amigo esperado o oráculo
a cordilheira o bosque a noz o raio
estragados
com o doce de se amarem sem que se
dissessem,
mas, ali, ombro a ombro, nada havia além
deles;
o mundo interrompe suas rodas sem penhor
sem mapas sem o sangue de laços e
guerras,
só o grito noturno dos aviões
entrechocando-se
no ar sonhar amar não amar saber não
saber.
Eucanaã Ferraz
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