Durante anos da minha vida, Didi era só
um: Didi Mocó. Belo e soberano. Nunca fiz a menor ideia de quem era
Renato Aragão, mas Didi Mocó, sim, fazia parte da minha vida bem
mais do que muito parente. A adolescência chegou e o posto de Didi
foi tomado por Didi Wagner, então VJ da MTV, cujo corte de cabelo e
tonalidade das luzes eu tento imitar até hoje, sem sucesso.
Depois de adulta, o posto de Didi ficou
vago. Nenhum dos dois aparecia mais nos meus dias e eu até pensei em
anunciar a vaga na Catho. Ainda bem que não fiz isso. Tinha 26 anos
quando minha irmã engravidou e não demorou muito até que ela me
anunciasse o delicioso posto de madrinha da Luísa.
Madrinha foi uma palavra pela qual nunca
nutri nenhum grande afeto, porque a palavra madrinha na minha
história foi substituída pela expressão Tia Rê, que era muito
mais completa. Tia Rê, minha madrinha, é tão incansavelmente
completa que me levava até para ver corridas de cavalo e jogar golfe
quando eu era criança. Disney, McDonald’s, praia de Ipanema, banca
de jornal, KFC, todos os filmes infantis do cinema – não faltou
nenhum roteiro. Recentemente ela até comprou boas tábuas de madeira
para cortarmos legumes na minha cozinha, para eu finalmente me livrar
daquelas porcarias brancas de plástico riscado e cheiro encardido de
cebola ultrapassada.
A palavra madrinha nunca me disse nada.
Dinda também não me parecia grande coisa. Mas... Didi. Didi, sim.
Didi dizia muito. Didi dizia tudo. Didi era um posto vago que me
permitiria ter belos cabelos loiros, ser uma quase musa e ao mesmo
tempo falar todas as besteiras possíveis, provocando as melhores
gargalhadas daquela criança que ia nascer. Didi. Sim, eu queria ser
Didi tanto quanto quis passar na OAB. Talvez até mais.
A Luísa levou um ano, um mês e uma
semana para falar Didi. Foi no dia 23 de agosto de 2016, aniversário
de Nelson Rodrigues, Tônia Carrero e Paula Toller. Estávamos num
restaurante japonês, ela estava com um vestidinho florido de algodão
que eu havia comprado uma semana antes e se divertia segurando uma
fatia molenga de peixe branco. Didi. Didi. Ela disse: Didi.
Hoje completo três meses e cinco dias de
Didi e um ano, quatro meses e doze dias como madrinha da Luísa. Uma
coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Somos madrinhas por
concessão dos pais. Somos Didi ou Tia Rê por conquista. Obrigada
aos pais por me deixarem ser madrinha do bichinho. Obrigada,
bichinho, por me reconhecer como sua Didi. A Didi é bem mais legal
que a Ruth Manus. Obrigada por me fazer encontrá-la aqui dentro.
Ruth Manus, in Um dia ainda vamos rir de tudo isso
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