terça-feira, 16 de março de 2021

O João-de-Barro

          Quando chegou à idade das três provas, aquele moço correu e nadou melhor que ninguém e ficou nove dias sem comer, esticado por tiras de couros, sem mover-se nem queixar-se. Durante as provas escutava uma voz de mulher que cantava para ele, de muito longe, e o ajudava a aguentar.
O chefe da comunidade decidiu que devia casar-se com sua filha, mas ele levantou voo e perdeu-se nos bosques do rio Paraguai, buscando a cantora.
Por lá anda ainda o João-de-Barro. Bate forte as asas e proclama alegrias quando crê que vem, voando, a voz procurada. Esperando a que não chega, construiu uma casa de barro, com a porta aberta à brisa do norte, em um lugar que está a salvo dos raios.
Todos o respeitam. Quem mata o João-de-Barro ou quebra a sua casa, atrai a tormenta.

Eduardo Galeano, in Os Nascimentos

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