O corvo, que reina agora do alto do totem
da nação haida, era neto do grande chefe divino que fez o mundo.
Quando o corvo chorou pedindo a lua, que
estava pendurada na parede de troncos, o avô entregou-a. O corvo
lançou-a ao céu, pelo buraco da chaminé; e novamente se pôs a
chorar, reclamando as estrelas. Quando as conseguiu, disseminou-as ao
redor da lua.
Então chorou e esperneou e gemeu até
que o avô entregou-lhe a caixa de madeira lavrada onde guardava a
luz do dia. O grande chefe divino proibiu-lhe que tirasse essa caixa
da casa. Ele tinha decidido que o mundo vivesse no escuro.
O corvo brincava com a caixa, bancando o
distraído, e com o rabo dos olhos espiava os guardas que o estavam
vigiando.
Aproveitando um descuido, fugiu com a
caixa no bico. A ponta do bico partiu-se ao passar pela chaminé e
queimaram-se as suas plumas, que ficaram negras para sempre.
Chegou o corvo às ilhas da costa do
Canadá. Escutou vozes humanas e pediu comida. Negaram. Ameaçou
quebrar a caixa de madeira:
– Se o dia, que tenho guardado aqui,
escapa, jamais se apagará no céu – advertiu. – Ninguém poderá
dormir, nem guardar segredos, e se saberá quem é gente, quem é
pássaro e quem é fera do bosque.
Riram. O corvo quebrou a caixa e a luz
explodia no universo.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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