O
silêncio é o espaço onde as palavras nascem e começam a se mover.
Por vezes, as palavras existem porque as dizemos. Dependem de nossa
vontade de pensar, de falar, de escrever: pássaros engaiolados. Mas
no silêncio ocorre uma metamorfose. As palavras se tornam selvagens,
livres. Elas tomam a iniciativa. E só nos resta ver e ouvir. Elas
vêm como emissárias de um outro mundo, um mundo que não havíamos
visitado antes. Não, talvez o tenhamos visitado. Talvez tenhamos
nascido nele. Mas foi esquecido quando o brilho dos reflexos nos fez
esquecer nossas origens. Cada poema é um testemunho desse mundo
perdido.
Rubem
Alves, in Do universo à jabuticaba
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