Um
cronópio que anda pelo deserto encontra um leão e tem com ele o
seguinte diálogo:
Leão
— Vou comer você.
Cronópio
— (aflitíssimo mas com dignidade) — Está bem.
Leão
— Ah, assim não. Nada de mártires para cima de mim. Comece a
chorar ou resista, das duas uma. Assim eu não posso comer você.
Vamos, estou esperando. Você não diz nada?
O
cronópio não fala nada e o leão está perplexo, até que tem uma
ideia.
Leão
—Ainda bem que eu tenho um espinho na pata esquerda que me incomoda
muito. Arranque-o e eu o perdoarei.
O
cronópio arranca o espinho e o leão vai embora, rugindo de má
vontade.
— Obrigado,
Ândrocles.
Julio
Cortázar, in Histórias de Cronópios e de Famas
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