Estocolmo, Suécia
Não
é a luz que acendo.
Acabei,
sim, de acender a noite.
Num
instante,
o
teto se torna céu
e
o escuro se torna leito.
A
noite é escassa
para
tanta saudade.
Saudade
da
espreguiçada noite dos trópicos,
saudade
da
noite com vagar para não dormir,
saudade
da
noite com tempo para esquecer o tempo.
A
gente desta cidade
sonha
depressa e pouco.
Tão
depressa
que
o sono fica isento de pecado.
De
manhã, despertam
com
o sonho ainda a meio,
como
quem é surpreso
de
braço dado com o demônio.
E
contam os sonhos a um médico
como
se de doença se expurgassem.
Desconhecem
o
atentado contra a poesia:
a
lembrança do sonho
mata
o termos sonhado.
Esta
claridade de meia-noite,
este
poente que nunca encontra sol,
foram
feitos para te roubar da distância.
Nenhuma
geografia me vence:
neste
matinal crespúsculo
eu
te desenho, luar de sombra.
E
já não é nem pecado nem sonho:
és
tu que acendo
num
quase ocaso de Estocolmo.
Mia
Couto
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